segunda-feira, 19 de novembro de 2012

33. A Ilha dos Piratas


- Hell, larga essa garrafa...  – Cain disse entre risos.

Estavam saindo do salão de festas principal do hotel. Não faziam ideia de que horas eram, mas o sol já havia sumido há muito tempo. Foram para o gramado,deixando para trás a música alta e o som de conversas e risadas.

- Eu só largo... Ui! – ela escorregou na grama úmida, caindo sentada no chão. – Só largo... Quando a garrafa estiver vazia! – ela ria, sentada na grama. Cain sentou ao lado dela, tomando a garrafa de suas mãos e bebendo no gargalo.

- Eu acho que não estamos sóbrios... – comentou distraído, olhando as estrelas.

- Isso quer dizer que... Você não vai ficar resistindo que nem uma donzela virgem hoje? E vai me deixar sugar teu sangue até você ficar pálido? – ela disse, sorrindo sinistramente. O brilho de seus olhos, que conotava uma paixão violenta, não disfarçava suas intenções.

Cain sentiu o rosto ficar quente, e desviou o olhar de Hell, bebendo mais uma vez.

- Ah, Cain... Você sabe, eu faço sem você sentir dor. – disse sedutoramente, aproximando-se do pescoço do namorado e puxando a gola de sua camisa.

- Hell, não..! Não aqui... – olhou ao redor.

- Qualquer um que visse, acharia que estou apenas dando um chupão no seu pescoço. E não é muito diferente disso, não é verdade? – ela riu.

- E como eu voltaria para o quarto com essa camisa suja de sangue...?

- Desde quando desperdiço uma gota sequer do teu sangue, demônio estúpido?! – bateu no ombro dele. – Às vezes penso que você usa sempre roupa branca apenas para me inibir de atacar sua jugular...

- Não fala merda, e deixa de ser tão egocêntrica. Eu sempre gostei de branco. – disse, levemente irritado.

Ela riu de forma escandalosa, jogando a cabeça para trás.

- Cain, Cain... Não seja tão mal humorado. Você devia ter bebido mais...

Ele não a respondeu, voltando a fitar as estrelas.
Hell se aproximou mais, abraçando-o.

- Meu lindo demônio... Sabe que não vou te forçar a nada, que seu sangue é apenas seu, e você o divide comigo quando quiser.

Ele virou a cabeça para o lado, beijando os cabelos vermelhos.

- Ei... Cain! Olhe lá! – apontou para frente.

- Que foi, quer nadar?

Mais a frente, o que se via era a praia privada do hotel.
- Não, mais além! Não vê aquela montanha? Que parece estar numa ilha?

- Meus olhos não são tão bons quanto os seus...

- Deixe de má vontade! Aposto que tem uma visão até melhor que a minha... Aquela montanha, não se lembra dela?

Cain olhou com mais atenção para a direção indicada.

- Aquela é... A montanha onde tem aquela caverna? De uns mil anos atrás?

- Só pode ser, é o mesmo formato! Cain... Vamos até lá!

- Agora?

- Agora! Capitã Bonnie volta à ativa!

- E devo voltar a ser seu humilde escravo capturado próximo à ilha Madagascar?  - disse com um sorriso irônico.

- Não... Desta vez, lhe permito subir de posto. Pode ser meu escravo sexual, capturado próximo à ilha Madagascar.

Cain riu, balançando a cabeça.

- Devo realmente estar meio bêbado, para concordar com isso... Mas vamos lá.

Faz-se necessária aqui uma breve pausa na história, para que as devidas explicações sejam dadas.

Cain fez uma promessa ao dragão Kratos, ainda na época em que vivia como um demônio recém-transformado, no chamado “Egito Antigo”. Prometeu que aguardaria que mais de dois mil anos terráqueos se passassem, até que “Luke, o escolhido”, nascesse. Para que não precisasse esperar, literalmente, os dois mil anos, Cain era enviado para diversas dimensões, onde o tempo “corria mais rápido” em relação ao planeta Terra. E Hell sempre o acompanhou.

Sendo assim, ao invés de ter esperado dois mil anos, Cain aguardou cerca de duzentos anos.
Várias vezes, nesse meio tempo, “visitava” a Terra e vivia um pouco aqui, para que acompanhasse a evolução dos humanos terráqueos.

Certa vez quando estava na Terra, Helleh se passou uma pirata, chamada Bonnie. E Cain fez o papel de um escravo capturado, que lhe servia fielmente. Mas a vida de pirata não durou tanto, pois o navio fora destruído pela Marinha Inglesa. Hell e Cain conseguiram escapar do massacre que fora realizado em seu navio. Fugiram para uma ilha próxima, e se abrigaram numa caverna.

E foi nessa caverna onde fizeram amor pela primeira vez.

Agora, voltemos à história.

- A água tá fria... – Cain resmungou, após tirar os sapatos e por os pés na água do mar.

- Como você reclama! Vai, entra logo... – ela também havia tirado os sapatos, e entrava de uma vez na água com seu vestido curto e as meias arrastão que iam até os joelhos.

Fechou os olhos e mordeu os lábios ao sentir a água fria envolvendo seu corpo.
- Entra, Cain! – chamou-o novamente.

- Certo... – ele fala hesitante e tira a camisa, deixando-a jogada na areia, ao lado dos sapatos.

Cain corre em direção a água e entra também, xingando diversos palavrões ao fazer isso.

- Vamos apostar uma corrida até a ilha, assim a gente esquenta!

- Você é bem mais rápida que eu, isso é injusto...

- E você é um demônio, Cain! Pare de ignorar isso o tempo todo! Você pode ser tão rápido quanto eu, ou até mais... Só que você nunca usa sua força, sua velocidade, nem nenhuma outra característica especial, só porque não queria ter sido transformado em demônio!

- Tá bom, Hell... Não estou com vontade de ouvir mais um desses sermões. Revirou os olhos, e mergulhou a cabeça na água, para molhar de vez todo o cabelo e jogá-lo para trás. – Vamos logo. – ele sorriu ao emergir.

Os próximos minutos foram alucinantes.
Aqueles dois levaram a sério a corrida, e nadavam esforçando-se ao máximo. De fato, suas velocidades eram semelhantes. Mas Hell se manteve a frente, na maior parte do tempo.
Engoliam água, sentiam os olhos arderem por causa do sal, mas seguiam em frente.
Quando já se aproximavam da ilha, Cain sentiu seus músculos próximos à exaustidão, mas pelo modo como Hell não diminuía a velocidade, ela não parecia se sentir do mesmo jeito.

Cain parou, pois não conseguia seguir em frente. Hell não percebeu.
Ele pensou em chamá-la, mas não conseguiu reunir forças para gritar.
Sentiu-se afundando, e em breve não sentiu mais nada...


...



- Cain! Cain, por favor... Cain...! – ele ouviu a voz de Hell o chamar.

Abriu os olhos lentamente, e viu a vampira com o rosto todo sujo de sangue.

- Hell...?

- Seu idiota, não faz mais isso comigo... – ela continuou chorando, mas ria aliviada.

Helleh enxugou suas lágrimas de sangue, limpando as mãos no vestido, que também já estava todo sujo.

- Desculpe, eu não sei o que houve...

- Você quase se afogou, foi isso que houve!

Cain a conhecia muito bem. Sabia que ela estava se sentindo extremamente culpada, e por isso sorriu de modo tranquilizante, levantando o corpo e sentando em frente a ela, que estava sentada em cima das pernas, com os joelhos dobrados.

- Obrigado por me salvar! – ele a abraçou, e Hell se desmanchou em seus braços, segurando-o com força, e o sujando com suas lágrimas sanguinolentas.

Ficaram assim por algum tempo, até que Cain a soltou.

- Vamos pra água um pouco? Você precisa lavar o seu rosto, e seu vestido. – ele sorriu.

- Não se preocupe... Vou com cuidado. – ela sussurra gentilmente, e Cain fecha os olhos ao sentir os caninos roçando na pele de seu pescoço.

Cain a abraça, sufocando um gemido, enquanto tem seu pescoço perfurado mais uma vez.

A corrente e a coleira de couro fino que sempre lhe cobriam o pescoço jaziam esquecidas no chão. Enquanto o dono delas ignorava a terra e a areia desconfortáveis que grudavam em sua pele, ainda úmida pela água do mar. Algumas pequenas pedras espalhadas pelo chão da caverna também lhe machucavam um pouco.



Sentia como se tivesse voltado centenas de anos atrás... As sensações eram ainda as mesmas. Ambos haviam mudado muito, mas o que sentiam um pelo outro continuava sendo o mesmo amor. Talvez, apenas mais maduro.

A verdade é que quando estava com Hell, detalhes como frio, terra, e pedras lhe incomodando nas costas conseguiam ser ignorados com facilidade. E o mesmo valia para a vampira, que sentia que poderia suportar de tudo desde que estivesse com Cain.


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