Não permitiram a entrada do mendigo na loja.
Ele apenas se contentou em observar a movimentação de longe, tentando não perder Helleh de vista. Mudou os planos, mas não o objetivo.
Esperou até que a modelo saísse de lá, e a seguiu até sua casa.
Algum tempo depois...
Luke e Cain jogavam cartas, sentados no chão da sala. Nana havia acabado de por Chihiro para dormir, e estava conversando com Helleh, até que todos ouviram batidas na porta e a japonesa foi atender.
Um cara estranho de cabelo azul, óculos escuros e roupas largas entrou repentinamente, antes que Nana falasse qualquer coisa.
Ao entrar na sala, fitou cada um dos quatro, através das lentes escuras.
E sorriu, mas não disse nada.
Luke largou as cartas no chão assim que viu o estranho, e posicionou-se a frente de Nana, como se a protegesse de algo. Seu rosto estava sério.
Mas Luke não foi o único a alterar o comportamento de modo súbito.
Todos encaravam inquisidoramente o estranho que os olhava.
Um clima muito tenso predominava no ambiente.
Cain mal piscava, atento a tudo, como se mal respirasse a fim de não perder nenhum detalhe da situação. Era como se estivesse preparado para atacar ou fugir a qualquer momento. Nana olhava o “convidado” com um olhar frio, e sou rosto assumira uma expressão calculista.
- O que você quer, dragão? – de braços cruzados e olhar sombrio, Hell perguntou.
Ele sorriu novamente.
Podia ser um sorriso de deboche, talvez.
Apesar dos quatro que o olhavam de forma tão ameaçadora, o estranho parecia estar achando toda a situação bem divertida.
Luke se irritou.
- Fala. – rosnou o ruivo, e de repente uma grande katana se materializava em sua mão. E a lâmina da espada mirava a garganta do homem de cabelo azul, que nem assim mudou a postura tranquila.
- Ele é forte, Luke... Muito forte. – Nana disse, disfarçando na voz a preocupação que sentiu ao imaginar seu namorado e o outro brigando.
- É, mas eu sou mais. – Luke respondeu sem tirar os olhos do homem, revelando um sorriso muito diferente do habitual. Tinha quase um ar assassino naquelas presas que ficaram à mostra.
- Quem sabe, né? – pela primeira vez, o homem disse alguma coisa. Sorriu também, mostrando os caninos do mesmo modo.
Surpreendendo novamente a todos, o estranho tirou os óculos e os jogou no chão.
Encarou Luke com os olhos amarelos de pupilas fendadas. – Luke, eu sou seu pai. – disse com a voz forte.
- Essa piada deve ter sido engraçada nas primeiras trezentas vezes que eu ouvi...! – Luke exclamou.
- Não, seu dragão de merda! Eu sou o Kratos mesmo!
Nana já sorria, havia então finalmente entendido porque a energia daquele homem lhe parecia familiar. Cain e Hell também estavam mais tranquilos, o maior medo de Cain agora era como Luke ia reagir.
- Você... Kratos...? – Luke começou a falar, sem ter certeza do que dizia. – ...Pai?
- Sim! – Kratos sorriu largamente, agora sem tom de deboche ou ameaça.
A espada de Luke havia desaparecido, mas os punhos fechados dele estavam trêmulos.
Tentou acertar um soco no rosto de Kratos, mas o outro desviou com uma rapidez surreal.
O dragão mais velho foi andando para trás, com as mãos nos bolsos, desviando perfeitamente de cada golpe que lhe era direcionado.
- Luke! – Nana exclamou, assustada.
- Seu... Velho... Maldito! – intercalava cada palavra com uma tentativa de soco ou de chute. Até que Kratos sentiu as costas batendo na parede, e Luke acertou um soco ao lado de seu rosto.
O soco fez um buraco na parede de alvenaria.
Hell ria com a situação, e Cain os olhava assustado. O demônio pensava que Luke não estivesse tentando acertá-lo pra valer, até que percebeu quanta força ele estava empenhando em suas tentativas de acertar o pai.
Percebendo estar sem saída, Kratos segurou o braço direito de Luke (que ele sabia ser o mais forte) e o torceu para trás. Mas Luke aproveitou a proximidade e acertou no outro uma joelhada que arrancou sangue do nariz.
- Quer brincar, é? – Kratos parou de se esquivar, e então ambos começaram a brigar de verdade.
Trocavam socos, chutes e joelhadas. A “sorte” era que sabiam brigar muito bem, então desviavam tanto quanto atacavam. A verdade é que pareciam dois animais furiosos.
Kratos também fez com que Luke sangrasse, um corte foi aberto em sua sobrancelha. Mas o problema desse tipo de ferida é que o sangue escorre pra cima do olho, atrapalhando a visão.
- Eu fiquei preocupado com você! ACHEI QUE TINHA MORRIDO! – Luke gritou, enxugando o sangue do olho.
De repente, a troca de socos se transformou num abraço.
- Eu te amo, porra! – Luke disse, apertando o pai como se suas vidas dependessem disso.
- Também te amo! – Kratos o apertava com a mesma intensidade.
- Que fofos! – Hell comentou com Nana, que não conseguia deixar de sorrir. Ainda mais quando percebeu que o namorado e Kratos estavam chorando.
Quando finalmente se soltaram, Kratos e Luke sorriram largamente um para o outro.
Kratos segurou o rosto de Luke, como um pai orgulhoso que admira a cria.
Luke passou a manga da camisa no rosto, limpando o sangue e as lágrimas.
- Nana, Cain, Hell! Fiquei com muita saudade de vocês também! – Kratos abraçou Nana, que também havia deixado que algumas lágrimas escorressem.
- Vocês três são bem sentimentais, não? – Hell brincou, antes de dar um abraço no dragão azul. – Ah, Cain! Até você? - revirou os olhos, após ver que o namorado também enxugava algumas lágrimas.
- Ah, Hell... – Cain sorriu sem graça, ficando com o rosto vermelho.
- Não liga pra ela, cara... É melhor que ela não chore mesmo, afinal não queremos um banho de sangue aqui... Imagina como ficaria o tapete. – Kratos descontraiu ainda mais o clima, antes de por fim abraçar Cain. Ele se referiu ao fato de que as lágrimas de Hell eram feitas de sangue.
A vampira lhe mostrou a língua, mas riu também.
- Ei! Gostei dos óculos, pai! Vai me emprestar, não é? – Luke empolgava-se ao experimentar os óculos que estavam esquecidos no chão.
- Não, a sua cabeça enorme vai acabar alargando... – Kratos falou, tirando os óculos do rosto de Luke.
- Que bom! Agora vai ter mais alguém sacaneando o Luke, além de mim! – Hell deu um soco no ar em sinal de vitória.
- Pode contar comigo. – Kratos e Hell deram um hi-five.
- As crianças vão adorar te conhecer! – Cain lembrou. – Daqui a pouco devem voltar, foram ao shopping com uns amigos.
...
No final do dia, todos estavam muito felizes.
Kratos de fato fez sucesso com as crianças. O dragão azul ia agora precisar se acostumar a ser chamado “tio”.
Mas era inegável que o seu reaparecimento foi muito mais significativo para os quatro adultos que já o conheciam, em especial para Luke.
Agora se sentiam um pouco mais completos.



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