quarta-feira, 14 de novembro de 2012

06. Love & Dream




Sentados no chão, conversaram por bastante tempo.
Até que Marie começou a bocejar.

- Não disse que você ia dormir? – Louis comentou num tom vitorioso.

- Eu... Não vou... Não estou com sono! – no entanto, um longo bocejo no final da frase acabou por traí-la.

- Tá bom, então. Que tal você chegar mais pra cá e apoiar a cabeça no meu ombro, pra você não dormir de forma mais confortável? – ele riu, e acomodou melhor Marie, que já estava com as pálpebras pesadas.

Não demorou muito para que o próprio Louis dormisse, e se visse mergulhado num sonho um tanto... Incomum.

Era noite, mas tudo estava muito bem iluminado.
Louis se via em alguma cidade movimentada, onde as luzes das lojas, carros, postes e grandes anúncios tornavam tudo colorido e traziam aquele ar de “aqui é onde as coisas acontecem”.

Andou sem rumo, deixando que sua atenção fosse conduzida de uma luz à outra, de uma pessoa à outra... Tudo lhe chamava a atenção, tudo era tão bonito e interessante!
Mas... Havia algo ainda mais interessante que se aproximava de Louis a cada passo que o menino dava em frente.

Do outro lado de uma rua havia um banco de ferro, que parecia fazer parte de um ponto de ônibus.
Ali sentava um homem de calça jeans escura e blazer preto. Estava com o corpo curvado, os braços apoiados nas pernas enquanto olhava para baixo. Tudo que Louis via eram os fios negros e lisos do cabelo do homem, que lhe escondia o rosto.

Sem saber o motivo, aquela figura cabisbaixa prendeu toda a atenção de Louis.
Ele percebia a solidão do homem.
A tristeza que emanava dele era algo tão forte que parecia quase se materializar, tornando-se algo denso que o puxava cada vez mais para o fundo...

Louis queria chegar ao outro lado, sentia uma emergência muito grande em encontrar-se com o homem e abraçá-lo.
Não importava quem era, o que importava era que a situação não poderia continuar assim.

Olhou para o semáforo, desesperado. A luz verde continuava a brilhar, e muitos carros passavam por ali.
Tentar atravessar seria suicídio.

O homem levantou a cabeça.
Olhou para o lado, lançando um olhar vazio à lugar nenhum.
Quando passou a mão no cabelo e o jogou para trás, Louis pode ver finalmente seu rosto.
Era japonês, com certeza.
E era também a pessoa mais triste que vira na vida.

Louis o entendia. Simplesmente.
Sentimentos muito fortes pareciam saltar do homem, direto para Louis.

“Tudo sempre deu errado.”
“Não sei o que fazer.”
“Estou mais sozinho que nunca.”

Era quase como se pudesse ouvir os pensamentos do japonês.
E Louis podia também sentir arrependimento vindo dele.
“Não importa, não me importa nada que você tenha feito!”, era o que Louis queria gritar, mas sua voz não saía.
“Eu não me importo!”

O homem levantou e olhou alguma coisa no celular.
Louis temeu que fosse embora sem que pudessem antes se encontrar.
O maldito semáforo não ficava vermelho!
E os carros simplesmente não param de correr pela rua, totalmente indiferentes ao desespero do garoto que queria atravessar.

Sentiu que seu tempo estava acabando.
O homem iria embora, e eles nunca mais teriam outra chance de se encontrar.
Louis nunca teria outra chance de dizer “Tudo vai ficar bem!” para o estranho por quem nutriu aquela simpatia imediata.
Na verdade, era mais que simpatia.
A sensação que Louis teve ao vê-lo foi devastadora.
A urgência que sentia em correr até ele e abraçá-lo não poderia ser traduzida em palavras.

“Ei!”, Louis gritou, numa tentativa desesperada de chamar a atenção do japonês.

Ele largou o celular no mesmo instante e olhou para frente, como se tivesse sido atingido por uma bala.
Ignorou totalmente o aparelho que se despedaçou no chão, e simplesmente encarou Louis com um olhar que era uma mistura de espanto com descrença.

Os dois se olharam, e caso não houvesse tantos carros correndo entre eles, poder-se-ia dizer que o tempo havia parado.

O japonês matinha os lábios entreabertos, tamanha era a surpresa que tivera ao ver Louis.
De repente, foi como se a melancolia tivesse sido varrida da alma dele.
Sorriu para Louis.
Foi um sorriso discreto e até mesmo tímido, mas significativo.

Louis não conseguiu sorrir de volta, pois a distância entre eles pareceu aumentar...
A rua já não era mais estreita como antes, havia muito mais asfalto ali!
E mais veículos passavam apressados... O desespero quase tomava conta de Louis, mas ele sabia que não deveria se deixar levar por esse sentimento!

“A GENTE VAI SE ENCONTRAR!”, Louis gritou o mais alto que pode, sentindo que era sua última chance de lhe dizer alguma coisa.

Mesmo que o homem estivesse longe, Louis pôde ver que ele acenou de leve com a cabeça.
Não conseguiu ouvir sua voz, mas os lábios do japonês pareceram se mover dizendo duas palavras:
“Eu sei.”

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