- Quem é aquele cara? O de cabelo azul?
- Ah, um mendigo novo, eu acho... Já faz um tempo que anda por essas ruas.
- Tem certeza?
- Na verdade, não... Mas é o que dizem! Ele fala com os outros mendigos, e acho até que dorme no mesmo lugar que eles...
- Que horror!
- Sim, ele é estranho! Vem, vamos para a outra calçada, não quero passar ao lado dele...
- Ugh... Já viu aquela cicatriz na cara dele?
...
E assim, as duas mulheres que conversavam se afastaram da estranha figura de cabelo azul que andava calmamente.
Ele provavelmente não percebeu a situação.
Ou, se percebeu, não deu a menor importância.
“Eu vou encontra-los! Não pode ser tão difícil assim, tenho certeza de que estão nessa cidade... Bem, quase certeza.”, era o que ele pensava enquanto caminhava.
“Preciso me concentrar! Manter o foco! Não pensarei em outra coisa que não seja... CARA AQUILO ALI É UMA TELEVISÃO?” – correu até a vitrine de uma loja de rua. Era a primeira vez que via uma TV ligada.
- Uau! Esses humanos fazem coisas incríveis! – comentou, animado. Ao olhar para o lado, percebeu que um homem o encarava, com estranheza. – Não é demais?! Parece que tem várias miniaturas de humanos ali dentro! – falou com o homem, que se afastou rapidamente parecendo estar assustado.
- Hehe, humanos são realmente engraçados. Apesar de, é claro, serem muito fracos e imensuravelmente ignorantes, são interessantes. – completou sozinho, ainda sorrindo consigo mesmo. – Hm... No que eu estava pensando antes de ver essa TV? – ele franziu as sobrancelhas, tentando lembrar. – Ah, foda-se, não deve ter sido nada importante. – continuou a andar pelas ruas do centro da cidade, sem um rumo definido.
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"Sinto que vai ser hoje.
Hoje que vou encontrar o pessoal!
Nunca pensei que isso fosse ser tão complicado... Pensei que o mundo humano fosse pequeno, que fosse só dar uma procuradinha e eles apareceriam na minha frente. Mas acho que eu só tinha essa impressão por causa do meu tamanho... Atualmente, as coisas parecem ser muito maiores pra mim!
Como pude não contar com esse fator?!
Logo eu, que já vivi tanto, que já passei por tanta coisa... Logo eu estou tendo tanto trabalho em simplesmente encontrar uma pessoa!
Poxa, acho que estou fedendo.
Como diabos farei pra tomar banho?"
Quando a noite chegou, decidiu dar a busca do dia por encerrada.
Estava muito cansado, e isso o irritava. Não estava acostumado a se cansar, a ser “frágil” desse jeito.
Pelo simples fato de que não estava acostumado ainda a ser um humano.
Sentado numa pracinha deserta, refletiu a respeito de suas buscas até o momento.
Todos os dias ia para um lado da cidade, andava de forma meio aleatória. Por isso, dormia em qualquer canto, quando se sentia cansado demais para continuar.
Seu charme e jeito de falar lhe garantiam comida, e isso estava sendo uma baita lição para o “mendigo”, visto que orgulho costumava ser uma de suas principais características.
- Estou com saudade deles. – constatou por fim.
Era a primeira vez que admitia, pois tentava não deixar que seu ânimo fosse abatido.
Mas a demora em encontrar quem buscava já começava a desanima-lo um pouco.
No entanto, “desistir” não era sequer uma opção.
- Ah, já está escuro o suficiente... – constatando isso, retirou o óculos e o guardou.
Olhando para as estrelas, perdeu-se na imensidão que observava...
E pensou também em como a culpa por estar tão perdido não era somente sua, afinal.
- ARRGH! – rosnou, num momento de súbita mudança de humor. – LUKE, SEU MERDA! PORQUE NUNCA ME DEU SEU ENDEREÇO? – fechou os punhos. – QUANDO EU TE ENCONTRAR, VOCÊ VAI APANHAR COMO NUNCA! - deu um soco numa mesa de pedra. Era uma daquelas mesas presas ao chão, onde os velhinhos costumam jogar xadrez.
A pobre mesa voou longe, indo parar do outro lado da rua, destruindo o carro estacionado com o qual colidiu.




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