quarta-feira, 14 de novembro de 2012

04. Luna e Rico, os Viajantes do Tempo


A mulher, saindo das costas do burro, olhou ao redor e suspirou.
- Burrico! Estamos em 2012! Como pôde errar outra vez?! Eu disse 1982! – deu uma bolsada na anca do animal, que apenas a olhou entediado.
- Vamos, para o ano certo agora! – subiu no Burrico novamente, e este não saiu do lugar. – O que foi agora? ...Cansado? Como assim, você está cansado? Eu que devia estar cansada de você estar sempre me levando pro ano errado!

Ouvindo a voz da mulher irritada, Helleh, que andava sozinho por perto, foi até ela.
E foi o mais rápido possível, pois sabia que antes de chegar lá, a mulher já podia ter sumido.

- LUNAAA! – Helleh gritou. E Luna a olhou, surpresa.
- Hell? É você mesma, sua vampira maluca? – sorriu e desceu do Burrico para cumprimentá-la com um abraço.
- Sim, sou eu, querida! Pensei que não fosse mais te ver! Há quantas décadas!
- Oh, sim, me mantive um pouco ocupada ultimamente... O tempo voa, não? Ainda mais quando a gente pode viajar através dele livremente... Haha! Perco até um pouco a noção.
- Isso não é desculpa pra não me visitar de vez em quando... – fez um bico. – Olha, é o Rico ali atrás! – correu até o burro, e fez carinho em suas orelhas. – Oi, seu burro mal humorado!
- E Cain, como está? Já se casaram? Ele ainda está vivo?
- É claro que está vivo, e está muito bem!
- Hehe, me questionei se ele poderia morrer por anemia, um dia.
- Te garanto que ele só não morre por isso porque é um demônio. – as duas riram e conversaram por mais um tempo, contando casos que se passaram há cinco ou cinquenta anos.
 E quando o sol começava a se por, Luna lembrou de algo.

- Hell, posso ficar um pouco na casa de vocês? Acha que Nana se importaria?
- Ah, vamos lá! Vai ser um prazer! A Nana nunca se importa com esse tipo de coisa, mesmo que não tenha espaço nem pra mais um par de meias lá, ela deixa todo mundo ficar.
- Isso seria ótimo! Pois como você vê, o Rico agora cismou que tá cansado e não quer continuar viajando... Pretendo ficar apenas por alguns dias, não vou incomodar muito.

Não muito tempo depois do reencontro entre Hell e Luna, as meninas foram pra casa.
Após Luna ter contado quem era (sendo muitas vezes interrompida por uma animada Hell), Nana disse que não havia problema algum caso a viajante do tempo precisasse dormir ali de vez em quando.

- Rico realmente adora crianças! – Luna comentou ao ver a paciência do burro. E como resposta, Burrico apenas a olhou enfezado. – Ele só não gosta de admitir... – riu.

Um baque seco foi ouvido no teto, seguido da exclamação de dor de Luke.
Rico havia dado um coice, fazendo com que o garoto batesse a cabeça no teto.
- Foi de propósito... Eu sei que foi! – Luke reclamou. 

Rico parecia estar com um sorriso satisfeito no rosto. 

- Ah, eu adoro esse burro! – Hell disse entre risos.

Várias conversas, brincadeiras e histórias preencheram as horas seguintes.

Até que a noite chegou.
As crianças já dormiam, e Cain cochilava no sofá com Chihiro no colo.
E foi após Nana e Hell terem dado boa noite, que Luke percebeu que era o momento certo para fazer aquilo em que não havia parado de pensar desde que Luna contou quem era e o que fazia.

- Bem, então acho que já vou deitar também. Nana disse que ia deixar um colchão no quarto dela, não é? Pode me indicar onde fica o quarto? – sorriu.

- Luna... Espera. – Luke estava hesitante. – Eu preciso falar um negócio contigo. – não havia mais nele aquela alegria e leveza que apresentara durante a tarde.
Agora estava nitidamente tenso.

- Faço uma ideia do que vai me pedir, mas não poss... – foi interrompida.

- Não, por favor, deixa eu falar antes! – sua expressão suplicante desarmou Luna.  – Você com certeza sabe o que houve no planeta dos dragões. Sabe que fiquei um bom tempo sem noticias do meu pai... Quer dizer, de Kratos. E há uns dias, Nana me disse que ele provavelmente está... Morto. – foi difícil pronunciar essa palavra. Ainda não havia se acostumado com a ideia.

Luna o olhou com certa pena.
- Mas eu sei que você sabe mais! Você sabe do futuro! E eu sei que disse que não pode revelar nada, mas por favor! Me conte sobre Kratos! Ele vai vir me ver, não vai...? Ele está vivo, não está?!  - o olhar de Luke era como o de uma criança triste que, por um momento, enxergava esperança em alguma coisa.

- Luke... Eu sinto muito por você estar passando por essa fase difícil, sem saber se vai ver seu pai novamente ou não... – Luna começou a falar lentamente, parecendo ter cuidado com as palavras. – Mas eu não vou contar nada do futuro! – e deu uma bolsada forte no peito de Luke.

- Ei! – ele tentou se proteger quando viu que a segunda bolsada estava a caminho. 
Mas foi apenas uma ameaça, ela não bateu nele.

- Eu já disse isso, nada de contar sobre o futuro! – ela girou os olhos e suspirou com impaciência.

- Então... Já sei! Me conta do passado! Ele morreu depois que a grande guerra acabou e eu voltei pra casa? – por um breve momento sorriu vitorioso, achando-se esperto por ter conseguido contornar a regra de Luna.

- Affe! – deu mais uma bolsada, dessa vez acertando o braço dele. – Eu disse hoje mesmo que não contava nada do passado e nem do futuro! 

- Er... Pensei que fosse só do futuro... – ele comentou desanimado, esfregando o braço que recebera aquela bolsa grande e pesada.

- Não, eu disse hoje cedo que também não falava do passado! – disse, novamente impaciente. “Porque esse garoto não presta atenção no que a gente fala?”, pensou.

Luke parecia ter desistido.
Apoiando-se na parede, não encarou mais a guardiã do tempo .

- Apenas deixe o tempo correr como deve, seguir o caminho que precisa seguir... – ela procurava consolá-lo. 
Ver Luke daquele jeito era de fato desolador. Até para Luna, que nunca antes convivera com ele, era terrível ter que vê-lo tão triste e com o olhar tão perdido.

- Vai, não fica assim. – Luna apoiou a mão no ombro de Luke. – Vai ficar tudo bem! E pense, mesmo que Kratos tenha de fato morrido, não acha que ele teve a morte que gostaria? Ele não ia preferir morrer em outro lugar que não fosse o campo de batalha... 

Os olhos de Luke arderam. 
Ele sabia que provavelmente estava com o nariz avermelhado e por isso virou o rosto, procurando fugir do olhar de Luna.

- Ah, desculpe, eu... Não quis te deixar pior. – sentia-se culpada. Pelo jeito, ter mencionado a palavra “morte” três vezes durante a mesma frase foi demais para Luke, que parecia estar o tempo todo a ponto de desabar.

– Criança, olha pra mim. – Luna mandou, e Luke a encarou com os olhos marejados. – Sei que é difícil, mas tente não ficar pensando nisso! Não alimente a ideia de que Kratos morreu... Não alimente essa possibilidade em sua mente. Ele pode estar, nesse momento, precisando de alguém que acredite nele. Ele pode estar passando por dificuldades, e não vai ajudar em nada se o ser que ele mais ama estiver pensando que ele morreu!

Luke parecia um pouco confuso, mas não havia mais nele aquele ar deprimido.

- Quer dizer que... Eu devo ficar pensando que ele está vivo ainda, em algum lugar...?

- Sim, definitivamente!

- Mesmo que essa pareça ser a alternativa menos provável? – ele passou a manga da blusa nos olhos, e sorriu.

- Com certeza! Principalmente por esse motivo! – ela sorriu também.

- Certo... Assim é ainda mais legal! Se fosse fácil demais não teria graça... É isso mesmo! – o sorriso se alargou. – Como eu pude pensar que meu pai estava morto? Ele é Kratos, afinal!

- Isso, assim que eu quero que você pense! E nada mais de ficar deprimido, viu? Deu pra ver que seu astral influencia quase que diretamente no astral de toda a casa.

- Obrigado, Luna... Muito obrigado. – acabou não contendo mais uma lágrima que escorreu em meio ao seu sorriso, mas tratou de enxuga-la o mais rápido possível. – Vem, vou te mostrar onde você vai dormir! 

- Certo. – seguiu-o.

- Amanhã a gente pode levar o Rico pro centro da cidade, vai ser engraçado andar em cima de um burro lá no meio da rua, já pensou?

E lá foi Luke, fazendo comentários sem muito sentido e sugerindo planos ruins enquanto mostrava os quartos à Luna.
Com o coração um pouco mais leve.

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