quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

51. Natal - Parte 3 (final)


- Para de se olhar no espelho, vamos lá ajudar o pessoal a arrumar a mesa pra ceia... – Kratos fala meio impaciente, puxando Yuudai pelo braço.

- Tá bom, vamos. – disse desanimado.

Kratos já havia notado que o outro não estava muito bem nos últimos dias. Se olhava em espelhos sempre que tinha chance, e parecia se sentir incomodado ao fazer isso.

- Alguma coisa errada? Não gosta mais do que o espelho te mostra? – soltando seu braço, escorregou a mão para a mão de Yuudai, e a segurou. – Eu continuo gostando.

Yuudai abaixou a cabeça e lançou um olhar perdido ao chão, suspirando pesadamente antes de responder.

- Estou ficando velho, Kratos.

O dragão riu, achando a preocupação de Yuudai muito sem sentido.

- Você? Velho? Eu tenho alguns milhares de anos, sabia?!

- Mas sua cara é de trinta anos, no máximo! Eu tenho quase quarenta, e sou só um humano normal. Já olhou bem pro meu rosto? Estou ficando com marcas... Daqui a mais alguns anos, você vai continuar com essa aparência, e eu vou parecer um avô!

Kratos já havia abandonado o sorriso do rosto, agora entendia o que passava pela cabeça de Yuudai. Achou melhor abraçá-lo.

- Não se preocupa com essas coisas. Não é como se eu me importasse com isso... Pra mim você vai ser sempre atraente. Você sabe disso.

Yuudai descansou a cabeça no ombro de Kratos.
Estava reunindo coragem para lhe fazer um pedido. Precisava de mais coragem para falar o que queria, do que precisaria para contar para todos que é gay e que está há alguns meses namorando com Kratos.

- Kratos... – levantou a cabeça, e fixou seus olhos naquele olhar violentamente amarelo do outro. – Por favor, me transforme em dragão.

A primeira reação de Kratos foi ficar com os lábios entreabertos e sobrancelhas erguidas, como se não conseguisse acreditar no que tinha acabado de ouvir.

- Não! – desfez o abraço, se afastando de Yuudai. – Nunca!

- Porque não, Kratos?!

- Porque eu não quero te matar! Eu já te disse isso tudo antes! No meu planeta, tínhamos sacerdotes que nos indicavam quais seres tinham o corpo e a mente suficientemente fortes para que pudessem sobreviver a transformação...

- A chance de não dar certo é tão grande assim?

- Em toda a minha vida, só ouvi falar de seis profecias dos sacerdotes que falavam de humanos que sobreviveriam, e eles realmente puderam ser transformados... Além desses, conheço mais três casos de humanos que tentaram ser transformados, mas não haviam sido indicados pelos sacerdotes. Todos os três morreram, cerca de uma hora depois de terem ingerido o sangue de um dragão!

Kratos falava rapidamente, estava exaltado. Ao terminar de falar, arfava e olhava para Yuudai de forma desesperada, como se ainda não conseguisse acreditar que ele queria mesmo ser transformado.

- Um dia, Kratos... Vamos tentar. Eu quero correr esse risco. – ele estava decidido.

- Deixa de ser egoísta! E se você morrer? Pensa na família! E o Louis? E tem mais... Acha que eu conseguiria conviver com a ideia de ter sido seu assassino?

- Idiota, agora é o egoísta é você! Pensa na família também! Você iria se matar e abandonar todos?

- ... Somos dois egoístas.

Yuudai não o respondeu, apenas sentou na cama e escondeu o rosto nas mãos, parecendo cansado. Kratos continuou de pé, sentindo-se agoniado com as ideias de Yuudai, com toda essa situação. É claro que ele também gostaria que Yuudai não envelhecesse. Ele também já havia pensado no dia em que Yuudai morreria de velhice e o deixaria só.

Um silêncio pesado e desconfortável dominava o quarto de hóspedes.

- Comida na mesa! – Luke anunciou, aparecendo na porta do quarto rapidamente, e descendo as escadas em seguida. Ele pareceu não ter notado o clima estranho no quarto.

- Vamos? – Kratos pediu, mais calmo e com a voz mansa.

Yuudai levantou da cama, e eles desceram.

*
Quando todos já estavam terminando a ceia, Yuudai começava a sentir sua coragem se esvair.

“E se não aceitarem tão bem assim? E se na verdade a Nana, a Hell e o Cain não souberem ainda? Talvez ninguém tenha visto nada na boate, eu e Kratos podemos estar tendo uma ideia errada... E ainda tem as crianças, será que não vão se importar? E Louis?”, ele pensava sem parar. Estava tão distraído que errou a direção da boca e acertou a colher com pudim no queixo.

Quem viu seu descuido acabou rindo, e entre os que riram estava Kratos.

“Como ele pode estar tão tranquilo?!”

Lançou à Kratos um olhar preocupado, tentando demonstrar que estava tenso.
O dragão pareceu ter entendido na hora. Mas para a surpresa de Yuudai, ele lhe lançou um rápido sorriso tranquilizador, antes de chamar a atenção de todos.

- Gente, tem uma coisa que eu quero dizer! – Kratos levantou a voz, e as conversas paralelas cessaram.

Num gesto involuntário de nervosismo, Yuudai fingiu não prestar atenção no que estava acontecendo e encheu a boca com mais pudim.

- Na verdade, que eu e Yuudai queremos dizer. – ele sorriu, antes de continuar. – A gente tá namorando.

Yuudai sentiu o rosto ficar subitamente quente, e o máximo que conseguiu foi mostrar um pequeno e tímido sorriso forçado, olhando rapidamente para os rostos surpresos que os encaravam.

- Que bonitinho, o Yuudai tá todo vermelho! – Merlot praticamente gritou.  Ela parecia estar realmente surpresa, mas muito feliz. Sua boca não fechava, pois não conseguia abandonar o largo sorriso.


- WOOHOW! – Hell comemorou, ficando de pé e erguendo sua taça.

Todos na mesa estavam rindo ou sorrindo, embora até mesmo quem já soubesse da notícia aparentasse estar surpreso.
Várias vozes se misturavam, e Yuudai não conteve o próprio riso ao ver a reação de seu filho. Finalmente sentia-se mais tranquilo.

- LUKE! – Louis gritou de repente, levantando da cadeira e indo até o tio. – Agora somos irmãos!! De verdade!

- É mesmo! – Luke concordou com ele, aceitando o abraço.

- Kratos, Kratos! – Marie o chamou animadamente, indo até onde ele e Yuudai estavam sentados. – Quando vocês se casarem, deixam eu levar as alianças? Por favor!!

- Claro! Vai ser a dama de honra! – ele respondeu na hora. – E aí, não acha que o Yuudai vai ficar lindo de vestido branco? Pede pra ele jogar o buquê pra você!

- Yuuuuu! – ela virou para o outro, pulando no mesmo lugar enquanto falava, de tão animada que estava. – Joga o buquê pra mim?

- Kratos! – ele tentou ficar bravo com o outro, mas no momento só conseguiu rir.

- Parabéns! – Cain disse à eles. – Eu estava querendo falar isso desde aquele dia em que fomos à boate e a gente viu vocês juntos, mas sabe como é... – ele disse despreocupadamente, dando um gole na sua taça.

- Cain... – Nana chamou sua atenção, lhe lançando um olhar repreensivo, mas que o demônio pareceu não entender.

- Ah... Então, vocês já sabiam mesmo. – Yuudai concluiu.

- Maldito Luke, que ficou de espião duplo. – Kratos disse, recebendo de Luke apenas uma expressão culpada que denotava “o que eu podia fazer?”.

- O Cain tá ficando bêbado, aí fala as coisas sem pensar. Fica que nem o Luke em estado normal. – Hell comentou, puxando a taça de Cain da mão dele. – Deixa que eu fico com isso aqui, amor. – e bebeu tudo num gole só.

- Ei! – Cain reclamou, mas sabia que estava mesmo ficando alto.


- Desculpe não ter falado nada, Yuu... – Nana disse ao irmão, sorrindo e juntando as mãos num gesto de súplica. Ela sabia que ele não resistia a suas carinhas fofas.

- Tudo bem, Nana... Mas acho que vocês podiam ter falado alguma coisa... Nos pouparia de ficar tentando esconder durante esse tempo.

- Ora, vocês não precisavam ter escondido nada desde o princípio. – ela piscou.

- Meus caros... – Hell já falava com a voz meio enrolada. Havia bebido sozinha quase uma garafa inteira de vinho, com a desculpa de que era para Cain não beber aquilo no lugar dela e passar mal. – Aqui nessa família a gente tem os namoros café com leite meu e do Cain, e da Marie com o Louis... Tem namoro entre espécies diferentes, afinal não esqueçamos que Marie é uma gata... E namoro até entre terráqueo e alienígena, não é? Então, você realmente acha... Que a gente ia se importar com um casal gay?! Fala sério... – pegando a garrafa novamente, a bebeu diretamente do gargalo.

- Haha! Ela tá certa! – Louis falou animado, indo para perto de Kratos e Yuudai. – Eu tô muito feliz! – ele disse aos dois.

As horas passaram e todos beberem, conversaram e bagunçaram a sala até as quatro da manhã.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

50. Natal - Parte 2


- Oi... Quer ajuda? – Louis perguntou ao se aproximar de Luke, que estava descarregando a mala do carro.

- Não.

Luke não havia respondido de forma agressiva. Na verdade, foi um “não” bem indiferente. E para Louis, isso doía mais ainda.
Permaneceu parado onde estava, olhando para baixo.
Não sabia o que fazer.

Enquanto tirava os engradados de cerveja da mala, Luke notou que Louis ainda estava lá. Porque o garoto permaneceu no mesmo lugar mesmo depois de ter dito que não precisava de ajuda?

- Ei, você pode mesmo voltar pra casa, eu já estou acabando aqui... – interrompeu a fala ao ver que Louis estava chorando.

Largando no chão os sacos de supermercado que segurava, foi até o sobrinho.

- Que foi, Louis? – sentia-se preocupado.

- V-você... Me odeia, não é? – perguntou com a voz falhando, sem conseguir olhar Luke nos olhos.

Luke respirou fundo, dobrando um pouco os joelhos para ficar mais na altura de Louis.

- Louis, Louis... – ele disse com um ar cansado, e balançou negativamente a cabeça.

- Tio...? – Louis levantou a cabeça e o olhou, respirando com um pouco de dificuldade por causa do choro.

- Porra, Louis! – Luke lhe dá um tapa na cabeça.

- AI! – Louis fecha os olhos em reflexo, e põe as mãos na cabeça. – Porque?!

- Pra deixar de ser idiota! Ficou burro, de repente? Da onde tirou que eu conseguiria te odiar?!

- E-eu... Mas... Você disse que... – já havia parado de chorar, e no momento tentava a todo custo entender o que Luke estava falando. A linha de pensamento do ruivo nem sempre era fácil de acompanhar.

- Presta atenção. – segurou os ombros de Louis, olhando-o nos olhos com determinação. – Até se você virasse um babaca igual ao Sasuke e saísse borboleteando por aí atrás do Orochimaru, eu seria o Naruto que não ia deixar de ser teu amigo e iria atrás de você!

Louis o ouvia atentamente, com os olhos ainda avermelhados bem abertos, sem saber que reação manifestar.

- Luke... – disse com a voz trêmula.

- Sim? – abriu um de seus enormes sorrisos.

- Luke! – começou a chorar novamente.

- Haja paciência, viu... – Luke revirou os olhos, dando uns tapinhas de consolo no ombro de Louis.

- Me ajuda aqui, Sasuke. Pega o engradado da direita.

- Sim! – correu até a grande caixa de plástico lotada de garrafas de vidro, e a segurou dos lados, puxando-a com toda sua força. – Luke, eu... Eu acho que não consigo levantar isso. – concluiu, olhando suas mãos que ficaram vermelhas.

- Hahaha! Mas é um frango mesmo... – já estava segurando um engradado, mas pegou o outro com a mão que estava livre. – Leva os sacos então. – e começou a correr em direção à porta da casa.

- Me espera!! – Louis gritou, enquanto apanhava a maior quantidade de sacos que conseguia carregar.

- Me alcance! – Luke gritou em resposta, rindo.

Ambos sabiam que Louis nunca alcançaria Luke, mas para o ruivo a graça era justamente essa.
E Louis? Ele não se importava, ria sem parar enquanto corria atrás do outro.


*

Hell e Merlot haviam terminado de recolher os enfeites que estavam espalhados pelo chão. Fizeram tudo em silêncio, preferindo ignorar a presença uma da outra.

- Hell, esse lado já tem muitas bolas douradas, pendura mais atrás. – disse autoritária.

- Vou pendurar essas bolas nas suas tubas uterinas se ficar me enchendo.

- Pelo menos eu tenho tubas uterinas.

- Como se eu sentisse falta de ter um útero.  – responde impaciente.

- E de ter um cérebro, não sente falta não?

- Já chega, Merlot! – jogou uma das bolas douradas na cabeça da outra. – Você tá mais insuportável que o normal! Por isso que ninguém te aguenta, nem seu namorado!

- É, você tem razão. – disse seriamente, e abandonou a árvore ali, indo se jogar num dos sofás.

- Pirralha, você não vai deixar o trabalho todo pra mim! – não obteve resposta.

Bufando de impaciência com as pirraças de Merlot, Hell vai até o sofá. E ao vê-lo de frente se depara com Merlot encolhida ali, o olhar vago fitava a televisão desligada. Nitidamente, estava triste. Hell tentou se acalmar um pouco, pensando que talvez o melhor modo de lidar com aborrecentes fosse tentar ouví-los de vez em quando.

- Ex-namorado. – Merlot disse, antes que Hell abrisse a boca para lhe perguntar o que estava acontecendo.

- Quer falar sobre isso? – repetia a frase que via as boas mães perguntando às suas filhas, na televisão. Sentou no sofá, ao lado de Merlot.

- É que você tem razão... Sempre teve! Eu sou insuportável, sim! E realmente, nem ele me aguentava mais...

- Ele disse isso?

- Não, ele é gentil demais pra ser sincero assim... – enquanto falava, chorava discretamente. – Mas eu sei que foi isso. Eu... Acho que sou meio controladora. – mudando de posição, ficou sentada enquanto abraçava os joelhos.

Durante o silêncio que seguiu o desabafo de Merlot, Hell pensava no que deveria falar. Ela nunca antes precisou consolar ninguém (além de Cain, mas aí as situações já eram muito diferentes).

- Então... O que acha de ir ao shopping comigo depois do Natal e assistirmos um filme? Vamos ver várias bruxas tendo as cabeças arrancadas e sangue em 3D espirrando na gente.

- João e Maria, caçadores de bruxas? – perguntou baixinho, com a voz ainda meio desanimada.

- Sim.

- Tudo bem... Vamos.

*

Quando Nana entrou na sala, ficou contente ao ver Hell e Merlot terminando a decoração, conversando normalmente uma com a outra. Até mesmo sorriam. Percebeu então que seu plano para que as duas fizessem as pazes havia dado certo.

- A árvore ficou linda, meninas!

- Sim, uma obra prima. – Hell disse ao colocar o último enfeite.

- E se o Luke não, gostar, problema dele... Deu trabalho. – Merlot deu de ombros.

Nana se perguntava se havia dado tudo certo entre Luke e Louis também.
Mas não demorou nada até que a resposta entrasse pela porta, de forma abrupta e barulhenta.

- E não me alcançou mesmo! Hahaha! – Luke corria para dentro da sala, sem prestar atenção no caminho.

- LUKE, CUIDADO! – Hell e Merlot gritaram juntas, quando viram que ele corria sem olhar para frente, em direção a árvore recém remontada.

As três mulheres na sala respiraram aliviadas quando Luke parou, a alguns centímetros da árvore.

- Cuidado com o que, gente? – Luke perguntou, virando-se de frente para elas.

E ao virar o corpo, um dos engradados que carregava bateu na árvore, e a jogou no chão.

- Filho da puta! – Hell gritou na hora.

- Luke!! Eu não acredito! – Merlot levou as mãos ao rosto, olhando desolada para todos os enfeiteites que novamente se espalhavam pelo chão.

Nana apoiou a cabeça na mão, fechando os olhos a fim manter a calma diante da sessão de gritos que provavelmente viria a seguir.

- Foi mal, eu não vi! – Luke tentava se desculpar, protegendo-se dos vários enfeites que Hell e Merlot atiravam em sua direção. Usava os próprios engradados como escudo.

- Cheguei... AI! – Louis havia acabado de entrar na sala, correndo também. Mas pisou em uma das bolas da árvore e escorregou. Bateu com o queixo na quina da mesa antes de cair no chão.

- Louis! – Nana correu até o sobrinho, ajudando-o.

Agora, além dos enfeites, também haviam várias compras do supermercado espalhadas pela sala. Além de sacolas rasgadas e do sangue de Louis, que sujava o chão de madeira.

- O que está acontecendo? – Kratos perguntou ao descer as escadas que davam na sala. – A gente tá ouvindo um monte de gritos, barulho de coisa quebrando...

Atrás dele vinha Yuudai, que se assustou ao ver o filho sentado no chão, chorando e com sangue escorrendo pelo queixo.

- Nana, o que houve com o Louis? – correu até os dois.

- Quero saber é o que houve com a sala! – Kratos perguntou com os olhos arregalados, ao olhar ao redor.

- O estúpido do teu filho! – Hell esbravejou. – A gente tinha acabado de arrumar a ávore que a Marie tinha derrubado, aí vem o Luke derruba de novo!

- Aí veio uma bolinha dourada e derrubou o Louis. – Merlot acabou rindo ao terminar a frase.

- Não tem graça, Merlot! – Marie disse, entrando em cena. Cain estava ao seu lado, carregando alguns pedaços do bolo que estavam comendo na cozinha.

Enquanto Cain ia perguntar à namorada o que tinha acontecido, Marie sentava no chão ao lado de Louis. Ela lhe mostrava os joelhos enfaixados, tentando consola-lo ao afirmar que não doíam mais.

E foi desse modo desorganizado e conflituoso que o resto do dia passou. Pelo menos já não haviam mais moradores brigados uns com os outros, e no final todos acabaram montando a árvore juntos.

À noite, começaram a arrumar a ceia na mesa.
Já era quase dia 25.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

49. Natal - Parte 1


O dia 24 de dezembro chegou.

Kratos e Yuudai estavam na casa de Nana desde o dia 21, ajudando a arrumar a casa e preparar tudo. Todos lá gostavam do Natal (principalmente Luke!) então sempre decoravam a casa e preparavam uma grande ceia. Mesmo que não houvessem convidados de fora, aquela grande família já era o suficiente para se dar uma boa festa.

Yuudai costumava ser totalmente indiferente a esta data, assim como a qualquer outra comemoração. Mas agora pela primeira vez as coisas começavam a ter significado.

Louis já havia desabafado com o pai a respeito da situação entre ele e o tio. Por isso, Yuudai andava pensando constantemente durante esses dias sobre um modo de ajudá-los, e fazer com que eles voltassem a se falar. Infelizmente, Kratos não o ajudou muito.

- Qual foi a merda que o Luke fez dessa vez? - perguntou logo que Yuudai começou a falar do caso. Assistindo televisão no quarto de hóspedes, comia de forma animalesca um pedaço de coxa de galinha que segurava na mão.

- Dessa vez a merda veio um pouco de cada lado. O Luke foi grosseiro como sempre, e o Louis acabou se intrometendo demais no que não diz respeito a ele. - disse pensativo, sentando ao lado de Kratos.

- Ah, já até imagino. Luke é uma merda quando recebe critica, o filho da puta não aguenta ouvir um comentário negativo. - pegou outra coxa numa bandeja que estava na cama onde ambos sentavam.

- Kratos! - Yuudai reclamou irritado, quando um pouco do molho da carne que Kratos comia respingou em sua roupa.

O dragão olhou tranquilamente a mancha na camisa do outro.

- Sua irmã limpa isso aí num segundo. - lambendo os lábios, retirou a bandeja vazia de cima da cama.

- Ou então você podia parar de comer carne igual um coiote desesperado. Pelo menos quando estiver perto de mim.

- Ah, eu esqueço que você tem nojinho. - ele riu, debochado. - Contigo é só sushi e miojo né?

- Miojo não, lamen... - resmungou enquanto tirava a camisa. - E qual o problema em preferir culinária tradicional japonesa a esses pedaços de carne cheios de sangue que você chama de comida?

- Cala a boca, é Natal. - Kratos disse com a voz mansa, abraçando o outro por trás e o impedindo de vestir a camisa limpa que segurava.

- E o que tem a ver? - continuou mal humorado.

- Não vamos discutir. - o abraçou com mais força.

Yuudai sorriu, se dando por vencido.


*

- Primeiro ele diz que vai passar o Natal comigo. - Merlot estava sentada nas costas do sofá, balançando impacientemente as pernas cruzadas. - Aí ele não vem. Então, fala que talvez passe o ano novo...

Na sala, Louis, Nana e Hell estavam arrumando as coisas e remontando a árvore. Sim, remontando. Porque enquanto Marie corria loucamente pela casa sem nenhum propósito, prendeu os pés no fio das luzinhas e acabou caindo no chão junto a árvore.

- Mas quer saber? Não sei se acredito nele. Aposto que vai acabar não aparecendo de novo! - Merlot disse, distraidamente alisando o cabelo com os dedos.

- Calma, Marie... Só vai arder um pouquinho. - Cain a tranquilizava.

Sentada no sofá estava Marie, com os olhos cheios d'água e os dois joelhos ralados. Cain fazia um curativo rápido.

- Já vai passar, Marie! - Louis lhe mostrou um sorriso, e ela forçou um sorriso por entre as lágrimas como resposta. Junto das duas mulheres, estava agachado no chão, recolhendo os enfeites espalhados pela sala.

- Se bem que, se o Josh me pedir deculpas, talvez eu até pense no caso dele... - Merlot não havia parado de falar em nenhum momento.

- Foda-se, Merlot! - Hell jogou uma almofada na cara da garota, que caiu das costas do sofá e foi parar no chão.

- Piranha! - gritou ao sentir o impacto da queda.

- Pirralha chata! Ninguém quer saber do fracasso que é a sua vida amorosa!

Merlot levantou rapidamente, jogando a almofada de volta em Hell, que rapidamente a segurou com as duas mãos.

- Diferente de você, eu tenho bons reflexos. – sorriu vitoriosa.

- Vamos ver o quanto o seu reflexo é bom quando eu quebrar uma garrafa na sua cabeça. – Merlot ameaçou, fechando os punhos.

- A princesa desceu do salto, finalmente? Tá falando igual bêbado de barzinho, meus parabéns. – ela sorriu de forma debochada.

- CALEM A BOCA! – Nana se posicionou entre as duas, que estavam aos poucos andando na direção uma da outra. – As duas, parem com isso. Ou, se preferirem brigar, que saiam da minha casa... E não voltem. – sua voz era baixa e extremamente firme. Com os olhos semicerrados, fitou cada uma, impondo sua autoridade.



Pela primeira vez, o silêncio reinou no ambiente.

- Muito bem. – Nana falou. – Terminem de recolher os enfeites e montem a árvore juntas. Vão fazer isso sozinhas, enquanto eu vou falar com Luke. – ela sorriu docemente.

- Vamos o que?! – Hell perguntou rapidamente, pega de surpresa.

- Eu não quero ter que fazer nada com ela! – Merlot reclamou.

O sorriso não sumiu do rosto de Nana, que ignorou solenemente os protestos.

- E deixem a decoração perfeita. A árvore sempre foi uma das partes favoritas do Luke, ele vai ficar desapontado se ver que ela foi arrumada de qualquer jeito.

- Juro que não sei qual dessas mulheres me dá mais medo... – Cain comentou baixinho com Louis, que estava ao seu lado observando tudo.

- A minha tia. Eu acho que a Nana é a mais assustadora, quando quer. – ele respondeu, de olhos arregalados.

Marie disfarçou o riso, cobrindo a boca com uma mão.

- Louis, vem aqui comigo. – Nana pediu.

“Boa sorte.” Cain desejou ao garoto, com um ar fúnebre. Louis riu, mas no fundo se sentia um pouco nervoso, após ter visto toda aquela cena.

Fora da sala, Nana se abaixou para ficar da mesma altura que o sobrinho.

- Aconteceu alguma coisa? – lhe perguntou com um ar preocupado.

Louis olhou para baixo, sentindo-se desconfortável.

- Nada... Porque?

- Você não está agindo normalmente esses dias. No Natal você sempre fica tão alegre, andando com o Luke pra lá e pra cá, comprando coisas pra casa e pra ceia. Mas faz dias que nem vejo vocês conversando.

- Ah... Isso... – ele respondia devagar, pensando no que falar. – Não aconteceu nada, não se preocupa. – ele sorri, tentando tranquilizar a tia.

Após alguns segundos em que ela analisou Louis, sorriu também.

- Então pode ir lá na frente e ajudar o Luke a tirar as compras do carro do seu pai? Eles acabaram de voltar do supermercado, compraram tudo que faltava.

- Sim... Claro. – se viu sem saída.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

48. [especial] Kratos, Yuudai e Chihiro



- Yuudai, socorro. - Kratos diz segurando o riso e tentando manter a postura para a foto. - É sério, essa criança vai me deixar pelado...

- Melhor assim! - Yuudai disse rindo enquanto segurava a câmera.

A foto foi tirada.
Kratos reclamou, dizendo que não mostraria pra ninguém uma foto em que aquelas cicatrizes aparecessem. Tiraram mais algumas outras fotos depois.

- A gente tem sorte da Chihiro ser pequena demais pra entender as besteiras que a gente falou o dia todo com ela do lado. - Yuudai comentou.

- A gente tem sorte é dela ser muda, aí ela não sei repetindo o que a gente fala.

- O Cain discorda... - Yuudai disse em tom de provocação, levantando as sobrancelhas.

Kratos revirou os olhos, impaciente.

- Entendo o desejo do Cain. Todos nós gostaríamos que ela falasse! Mas temos que cair na real, ela é muda.

- Ele insiste naquela história de que a ouviu falando alguma coisa no bosque, quando estava sozinha.

Respirando fundo, Kratos deu de ombros.

- Bem, espero que ele esteja certo então. Mas duvido.

Enquanto conversavam, Chihiro os olhava atentamente.

domingo, 20 de janeiro de 2013

47. Desfazendo mal-entendidos.


- Eu acho que eles já sabem. – Kratos disse, na segunda noite em que eles passavam na casa de Nana.

- Sabem o que? – sonolento, Yuudai se moveu no futon onde estava deitado.

- Sobre a gente. Você acha que eles nos viram aquele dia, na boate?

- É provável... A Nana estava meio estranha quando foi falar comigo.

/Flashback/

- Então, Yuudai... – ela sorria nervosamente. – Você... Hm... Quer mais uma taça de gay? Quero dizer, mais uma taça de drink! Drink!! – com os olhos arregalados, ela quase derrubou a própria taça.

- Erm... Nana? Você tá bem? – ele a segurou no ombro.

- Estou gay! – ela sorriu, mas ao perceber o que tinha acabado de falar, emendou suas palavras numa tosse descontrolada. – BEM. Eu estou... Bem!! – ela gritou entre as tossidas.

- Certo, Nana... Vamos para casa logo, né? – um pouco assustado, Yuudai foi encontrar os outros para que saissem juntos da boate.

/Fim do flashback /

- E você tá tranquilo desse jeito? – Kratos se surpreendeu. – Agora eu tenho praticamente certeza de que os quatro sabem.

- Eu deveria... Estar tenso? – perguntou, confuso. Sentando-se no futon, esfregou os olhos.

- Não, mas... Eu sempre pensei que você fosse se importar... Que você não queria que ninguém soubesse, sei lá. Por isso que eu nunca sugeri da gente contar pra eles, eu estava esperando você falar que queria fazer isso.

- Sério? – ele sorriu, finalmente entendendo a pequena confusão. – Não, eu estava esperando você querer contar, na verdade.

- Ah... Então, pelo jeito, não tem problema nenhum. A gente fala assim que tiver chance. Afinal, já estamos namorando há uns dois meses, não é?

- Namorando?!

- E não estamos? – engoliu em seco. Será que havia entendido tudo errado?

- Sim, nós... Quer dizer, eu também...

- Você ainda está com sono, se quiser falamos disso amanhã. – disse rapidamente. – Desculpa ter te acordado. – já ia virando as costas, em direção a porta.

- Calma, não foge! – levantou o mais rápido que conseguiu, quase tropeçando no lençol e segurando o outro pelo braço. – Sim, estamos! É que a gente nunca falou sobre isso, e eu pensava que um dia você ia me pedir em namoro ou algo assim... Ou que talvez nunca quisesse nada sério, e aí...

- Você é retardado? – interrompeu o outro. – Então eu precisava me ajoelhar pra você segurando um anel de compromisso, ou algo do tipo?

- Claro que não, idiota! – soltou do braço do outro, empurrando-o.

- Eu já disse que te amo! – disse irritado.

- E eu também te amo!

- Então, estamos namorando, porra?

- Claro, porra!

Os dois começaram a rir juntos.

46. Almost Busted!

Essa história é "para introduzir" a história de Natal. 
Kratos e Yuudai foram passar uns dias na casa da Nana.

Dia 23 de dezembro, 2012

Yuudai e Kratos haviam trancado a porta do quarto de hóspedes. Era tarde, provavelmente todos estariam dormindo. Por isso, aproveitavam o momento para... Interagirem romanticamente.

"Mmm... Kratos... Ouviu alguma coisa?" Yuudai interrompeu, tentando se afastar do outro.

"Não." respondeu automaticamente, parecendo não ter sequer ouvido a pergunta.

"Me solta!" empurrou Kratos, que cruzou os braços e olhou o outro, irritado.

"Que foi, porra?"

Dessa vez, uma batida na porta nitidamente foi ouvida pelos dois. Kratos arregalou os olhos, descruzando os braços e tentando ajeitar a roupa rapidamente.

"Já vai!" Yuudai gritou, após mais uma batida ter sido ouvida.

"Abre lá, não dá pra eu ir assim..." Kratos disse.

"Tá de sacanagem, né? Viu como eu estou?" Yuudai disse secamente, e Kratos riu ao notar a situação dele.

O dragão foi até a porta e abriu apenas uma fresta, a fim de ver quem era.

"As moças estão despidas?" Luke perguntou do outro lado, rindo em seguida.

"Ah, é só o Luke..." Kratos abriu a porta toda e outro entrou.

Yuudai suspirou aliviado ao ver que era Luke, mas ainda se sentia irritado.

"Ah, seu puto... Porque não disse logo que era você querendo entrar?! Foi de propósito, né?!"

Luke ainda não havia parado de rir. Jogou-se na cama e bloqueou agilmente um soco de Kratos que o atingiria com força no ombro.

"Yuudai, isso é alguma moda nova do Japão? Usar o óculos na diagonal?" Luke implicava com o outro, que apenas lhe respondeu dando o dedo do meio. Mas estava rindo também.

"Vai falar o que quer ou prefere ficar só de graça mesmo?" Kratos o perguntou, sentando na cama também.

"Quero intimar vocês pra comprarem os comes e bebes comigo. Geralmente eu vou com o Cain, porque a Nana diz que eu não tenho bom senso e acabo só comprando doces, então alguém tem que ir comigo..." ele revirou os olhos e mostrou a língua, exatamente como uma criança debochada que é proibida de fazer o que quer. "Mas dessa vez a gente quer por comida japonesa na ceia também, então é bom o Yuu-chan ir junto."

"Yuu-chan..." Yuudai repetiu, amarrando a cara. A única pessoa que o chamava assim era Nana. E Luke também, quando queria provocá-lo.

Passaram um bom tempo conversando no quarto. Pulavam de um assunto pro outro com facilidade, mas na maior parte do tempo Luke se perguntava se devia contar a eles que todo mundo já sabia do "namoro" dos dois.

sábado, 5 de janeiro de 2013

45. Na Boate


- Ei, gente! Vem, estamos ali! – Luke gritou para que pudesse ser ouvido na boate, ao avistar Yuudai e Kratos se aproximando.

Desviando das muitas pessoas que estavam de pé, conversando ou dançando, chegaram a um canto próximo a pista onde haviam dois sofás formando um “L”, com uma mesa no centro.

Ali estavam Cain e Hell conversando com algumas pessoas que Yuudai não conhecia, mas julgou serem amigos dos outros.

- Yuu! – Nana chegou ali quase ao mesmo tempo que eles, vinha trazendo um copo em cada mão e os deixou na mesa antes de pular no irmão, o abraçando. – Vem,deixa eu te apresentar... – puxou-o pela mão, se aproximando do grupo que conversava.

Cain acenou com a cabeça, sorrindo, e Hell levantou na hora, abraçando-o de lado enquanto falava.

- Genteee! Esse aqui que é o Yuudai! – Hell disse escandalosamente, sem soltá-lo.

- Sim, eu ia apresentar o meu irmão, mas já que você foi mais rápida... – Nana mostrou a língua para a amiga, que riu e lhe sibilou um “desculpa”.

Sentindo-se sem graça, Yuudai forçou um sorriso e acenou a cabeça para o grupo.
Haviam quatro mulheres e três homens ali. Todos lhe sorriram simpaticamente, embora as mulheres parecessem ter algo além da simples simpatia por trás daqueles sorrisos e olhares insinuosos.

- Oi, eu sou o Kratos! – Kratos surgiu ao lado de Yuudai, rindo.

- Nossa, prazer! – uma das mulheres riu exageradamente.

- Deixa de ser bobo, Kratos... – outra disse, cheia de sorrisinhos. – Não quer sentar aqui?

Ainda rindo, Kratos se jogou no sofá entre as duas, e logo começaram a conversar animadamente.

- Ele é... Sociável, não? – Yuudai comentou com Nana.

- No início não muito, mas depois que a gente conhece... Sabe como é! – ela respondeu, sentando ao lado de Cain e puxando Yuudai para o seu lado. – O Kratos já conhece esse pessoal há algum tempo, já saímos todos juntos com esse grupo algumas vezes.

Luke conversava loucamente com dois dos caras que estavam ali.
“Loucamente”, porque o jeito hiperativo de Luke parecia ficar ainda pior em ambientes assim. Ele balançava tanto as mãos que constamente derramava a bebida para fora do copo que segurava. Era do tipo que dominava as conversas, mas isso não parecia incomodar os outros dois, que chegavam a derramar lágrimas de tanto rir.

- Você é foda, Luke! Sério, cara... – um dos homens disse, batendo no ombro do ruivo.

- Ei, vamos pra pista logo! – o outro falou após se recompor um pouco das risadas.

- Porra, mas já? – Luke disse. -  Eu ia perguntar se a seca tá tão braba assim... Mas também, quando que o Leo não tá na seca, né? – o que havia sugerido irem pra pista xingou Luke, enquanto o outro voltou a rir.

- Vão me fazer ir sozinho então, né filhos da puta? – o tal “Leo” voltou a falar, levantando-se.

- Calma, a gente vai também! – Luke terminou de esvaziar seu copo num único e longo gole, e os três seguiram para o local onde todos dançavam.

Yuudai conversava com Cain, Nana, e com um cara que descobriu se chamar Eric.
Mas não conseguia se concentrar no assunto, porque as constantes risadas femininas ao lado, acompanhadas pela voz de Kratos, lhe desconcentravam.

Kratos estava com Hell e as outras quatro garotas, e uma delas em especial, de cabelo preto que ia até os ombros, parecia ser um tanto intima dele.
Ou, no mínimo, queria se tornar íntima.
Yuudai engoliu em seco quando ela apoiou a cabeça no ombro de Kratos enquanto ria.

Tentando esquecer seu desconforto, olhou ao redor, observando o que as outras pessoas faziam. Até que seu olhar se prendeu a pista, onde viu uma cena que lhe lembrou um dos motivos que o fazia achar Luke um idiota.

Quando começou a tocar LMFAO, Luke e os amigos começaram a dar um show, fazendo até mesmo com que um espaço fosse aberto ao redor deles. Claro que era Luke quem chamava mais atenção, não só por ser o que de fato dançava melhor, mas principalmente porque estava tirando a camisa.
Ele usava uma regata justa por baixo da blusa larga de tecido fino, mas ainda assim, era um showzinho um tanto desnecessário. 
Não eram poucas as mulheres que gritavam “tira tudo”.
E dava pra ver pela cara do Luke o quanto ele adorava aquilo.

- Nana... – Yuudai chamou a irmã, que estava ao lado. – Você não se incomoda com isso? – apontou para a pista.

Ela riu ao ver o namorado lá.

- Desde que ele não tire tudo mesmo, não tem problema... Ele já foi expulso daqui quando ficou seminu de verdade, é que não pode ficar sem camisa aqui dentro. – falou em tom casual.

- Você não fica com ciúmes? – perguntou de vez, realmente surpreso.

- Não. – Nana disse tranquilamente, sorrindo. – Na verdade, não gosto muito desse lado dele, mas... O Luke é assim. E eu o conheço o suficiente pra saber que ele nunca me trairia. Mas sei lá, ele precisa dessa atenção, precisa saber que ele deixa as garotas loucas. – revirou os olhos num certo descaso, e tomou um gole do drink que segurava.

Ela e Yuudai conversaram mais um pouco sobre esse assunto, até que Nana percebeu que os dois amigos de Luke já estavam cada um em um canto da pista. Haviam encontrado as garotas que procuravam, pelo jeito.
Nana viu que Luke tentava sair de lá, mas uma garota o seguia e falava sem parar. Ele dava sorrisos amarelos e olhava ao redor, tentando ignorá-la, e Nana percebeu pelo seu jeito que Luke queria sair de lá.

- Mas às vezes é bom eu aparecer lá, sabe? – ela disse, sem tirar os olhos do que acontecia na pista.

- Hm... Entendo, vai lá. – Yuudai disse, rindo, ao olhar para o mesmo lugar que ela.


- Luke, eu estava te procurando! – Nana interrompeu a garota , se enfiando no meio dos dois.

- Ah, Nana! – Luke sorriu aliviado.

- Já estava saindo? Mas agora que eu vim dançar? – Nana reclamou fazendo um bico, aproximando-se de Luke e apoiando uma mão no peito dele. – Fica mais um pouco aqui comigo. – sorriu, seduzindo-o com facilidade.

Com o rosto avermelhado e sentindo o coração bater forte com aquele simples contato, Luke sorriu de forma estranhamente tímida e acenou positivamente com a cabeça.
Quando já havia esquecido totalmente que havia ainda uma outra garota sem noção ali do lado, ela se pronunciou.

- Quem é essa?! – com uma voz esganiçada. – Você não disse que tava saindo e por isso não ia dançar comigo?!

- Quem é você? – Nana enfatizou o “você”, olhando para a outra com indiferença. Desceu um pouco a mão que estava em Luke, e segurou-o pelo quadril.

Sorrindo bobamente, Luke parecia não ter ouvido uma palavra sequer de nenhuma das duas. Estava concentrado demais no modo como Nana o segurava, coisa que era um tanto rara de acontecer em locais públicos.

Aproveitando-se do ritmo sexy da música que tocava, começaram a dançar juntos ali mesmo. A garota que perseguia Luke enfim saiu de perto, frustrada.

Yuudai observou tudo do sofá.
“Incrível o modo como a Nana afeta o Luke, é como se... Ele pertencesse totalmente a ela.”, pensou ao analisar as reações dele.


- E daí? Você não tem namorada mesmo! – ouviu a voz de Hell.

Ao olhar para o lado, percebeu que Helleh parecia estar incentivando Kratos a ficar com uma daquelas garotas. Era a de cabelo preto.
Ela estava corada, e dizia para Hell parar de falar bobagens.

- Hm... Eu recomendo ficar com o Kratos. – uma outra, nítidamente já meio bêbada, falou. – Só não esquece que ele vai te largar do nada, que nem sempre faz... - Todos riram.

Yuudai estava aos poucos descobrindo um pouco do “passado amoroso” de Kratos.
E gostando cada vez menos.
O pior eram os sorrisos de Kratos, que demonstravam o quanto ele não se incomodava com o assunto.

- Vou dar uma andada por aí. – disse à Cain e Eric.

- Ei, Yuudai! – Hell o chamou, ao vê-lo se levantando.

- Oi? – ele se aproximou do grupo, tentando parecer simpático.

- Você também não tem namorada, não é? – as garotas que estavam ali lhe direcionaram os olhares, interessadíssimas na resposta dele.

-É verdade. – ele sorriu, fazendo questão de olhar para uma delas, que estava lhe direcionando olhares desde que ele fora apresentado. Quem sabe Kratos não se sentiria incomodado ao vê-lo se insinuando para aquelas mulheres também?

- É, meninas... As opções de vocês hoje definitivamente são ótimas. – Helleh levantou as sobrancelhas, sorrindo.

No outro sofá Cain estava sozinho, pois a namorada de Eric havia chegado e ele foi falar com ela. Normalmente teria apenas se juntado a Hell, mas desta vez preferia analisar a situação que via em frente.
Enquanto bebia tranquilamente, observava as reações de Kratos e de Yuudai.
Sentia algo estranho.

- Hm... Mas, sabe... Eu ainda prefiro o Kratos. – a garota de cabelo preto disse após ter finalmente tomado coragem. Apoiou a mão um tanto trêmula na perna de Kratos.

Yuudai aguardou uma reação do outro, mas nada foi feito.
Kratos sorriu para ela.

- Depois eu volto. – Yuudai disse rapidamente, levantando quase num pulo. Virou as costas, mas ainda pôde ouvir a voz da que estava bêbada gritando “Não vai embora, eu prefiro você!” e os risos que seguiram essa frase.

Atordoado, atravessou a pista e apoiou as costas numa parede onde estavam as portas dos banheiros. Ali era mais escuro, o que Yuudai considerou confortável.
Ainda mais porque não gostaria que o encontrassem, ou que vissem sua cara.

“Mas que merda! Porque o Kratos fica lá, porque não dá um fora nelas?!” pensava irritado.
”E porque estou com tantos ciúmes...? A gente nem namora... E ninguém sabe do que acontece entre nós, ninguém ali tinha culpa.” começava a se sentir triste.

Não demorou muito até que Kratos o encontrasse.

- Yuudai! O que houve? – se aproximou, e não obteve resposta. – Tá tudo bem?

- Não, Kratos! – disse finalmente. – Mas que merda você estava fazendo? E porque você me disse que era virgem?

- Do que você está falando?!

- Eu já vi que você teve alguma coisa com a bêbada lá, ela deixou isso claro. E porque estava aceitando as investidas daquela outra de cabelo preto? – sentia-se ridiculo enquanto falava. Por estar com cúmes, por estar fazendo essas perguntas... Por tudo.

- Você sabia que eu já tinha ficado com mulheres, mas foram no máximo uns... Amassos. E foram só três. Aquela realmente era uma delas, mas eu nunca tive mais nada com mulher nenhuma desde que a gente começou! – não estava gostando daquele inquérito. – E você, Yuudai? Porra, você sempre foi um maníaco! Aposto que nem você sabe com quantas mulheres já transou!

- E daí? Eu também nunca mais tive nada com ninguém depois que a gente começou a... – quase falou “namorar”. Mas conseguiu engolir a palavra a tempo.

- Então qual é a porra do problema, afinal?! Nossos passados não importam!

- O problema era o modo como você estava lá! Não consigo ser que nem a minha irmã, não vou ficar aturando um idiota exibicionista que precisa se sentir como...

- O que? – o interrompeu. – Então é só ciúmes, é isso? – sorriu. – Aquela garota, a de cabelo preto que você falou... Ela é tão tímida que eu fico com pena! Sei lá, ela se esforçava tanto pra falar comigo, que dava pena de ser frio com ela.

- Estou pouco me fodendo pra porra da timidez dela, Kratos. – disse irritado, com a voz firme. – Só eu posso pegar nas suas pernas, tá me ouvindo? – segurou uma das coxas de Kratos, e com a outra mão o puxou pela nuca.

Confuso e extremamente surpreso, Kratos não acreditava que aquilo estava realmente acontecendo. Era um lugar escuro e um pouco mais afastado, mas ainda estavam dentro da boate!

“Se ele não se importa, eu também não me importo...” pensou então.

Se beijavam como se estivesse sozinhos num quarto.


- Ei! Não é o Kratos ali? – Nana exclamou, ao ver o dragão beijando alguém contra uma parede.

- O que? Onde?! – Hell olhou para o lugar que Nana indicou. – Cain! Cain, olha isso! – puxou-o pelo braço, e nesse momento Luke também viu o que estava acontecendo. Arregalou os olhos, percebendo que o segredo que prometera guardar estava a um passo de ser descoberto.
“Merda! Péssima hora pra nós quatro aperecermos perto dos banheiros!”, pensou.

- Mas quem ele tá pegando? – curiosa, Hell esticava o pescoço. – Meu Deus, que química! – exclamou ao ver como a situação entre Kratos e “alguém” aumentava rápido de intensidade.

- Vamos deixar eles em paz, né? – Luke sugeriou rapidamente, segurando Hell pelos ombros e tantando guiá-la para o lado contrário.

- Ah não, Luke! Eu quero ver quem é que... – ela parou de falar quando Kratos se afastou um pouco da parede e falou algo para a pessoa, que agora estava com o rosto exposto.

- Yuudai?! – Nana exclamou na hora, deixando seu copo cair no chão. Mas ninguém deu atenção alguma aos pedaços de vidro que se espalharam.

- O Kratos e o Yuudai tão se pegando! – Hell praticamente gritou.

Cain, de olhos arregalados, agora entendia que clima estranho era aquele que observava.

- Já era... – Luke cobriu o rosto com as mãos, se dando por vencido.

- Espera, você já sabia? – Cain lhe perguntou.

- E não contou nada?? Luke! – Hell bateu em seu braço.

- Calma, gente! Eu prometi que não ia falar! Nem o Yuudai sabe que eu sei.

- Tudo bem, você fez certo em não contar. – Nana disse. – Mas... Nossa! Eu... Eu nunca imaginaria! – ela não conseguia fechar a boca, estava literalmente de queixo caído. Assim como Hell.

- Não sei porque, mas acho que eu já suspeitava. – Cain disse, rindo. – Desde aquela briga...

- Ódio e amor estão mais próximos do que parece, né? – Luke comentou, estava rindo também.

- Helleh, você está aí! – a menina de cabelo preto correu até Hell. – Onde está o Kratos?

- Na sua frente. – Hell disse. – Esquece ele, Olívia. – no fundo, estava segurando a vontade de rir.

- Aquele... – a garota olhou melhor. – Não é o Yuudai?! – ficou com o rosto vermelho, e cobriu a boca com as mãos.

- É sim. – Hell confirmou.

Luke olhou irritado para Hell. Achava que não era bom espalharem o que estava acontecendo assim, sem que os dois soubessem.

- E-então... T-tudo bem... Não tem problema. – Olívia olhava fixamente para o beijo dos dois, com o rosto ainda mais vermelho.

- Sai daqui, fujoshi pervertida... Vamos deixar eles sozinhos! – Hell ria enquanto empurrava a amiga para longe dali, sendo seguida pelos outros três.

- Fujoshi? – Cain perguntou à Nana.

- Ah, essa menina é tão fã de yaoi que eu acho que está muito mais feliz em ter visto aqueles dois juntos do que teria ficado caso tivesse conseguido alguma coisa com o Kratos.

Luke riu junto dos dois, pensando que então talvez a garota pudesse manter o segredo sem problemas.

Acabaram decidindo fingir que não sabiam de nada.
Deixariam que Kratos e Yuudai contassem o que estava acontecendo quando quisessem.

44. [especial nonsense] O Guerreiro Hell e a Donzela Caina





E lá estava eu, no Egito Antigo.
Olhando ao redor, percebi rapidamente que algum tipo de evento extraordinario estava ocorrendo. As pessoas andavam pra lá e pra cá agitadas, e eu não entendia nada. Me aproximei de uma moça que olhava para uma enorme torre que estava no centro de uma arena. Vi que muitas pessoas olhavam para o mesmo lugar que ela, e comentavam coisas umas com as outras.

- Você aí com os peitos de fora! – chamei a moça. Eu sorria pra ela, tentando usar da simpatia para conseguir informações.
E sim, ela estava mesmo com os peitos de fora, afinal aquilo era o Egito Antigo e não fazia parte do costume daquele povo vestir muitas roupas.

- Oh! – a mocinha ficou corada ao me ver, e pareceu assustada. Desajeitadamente tentou cobrir o tronco nu com os braços.

- Que foi?! – eu não entendi a sua reação. E eu não tinha tempo a perder com essas frescuras de mulherzinha! Queria saber logo o que estava acontecendo naquele lugar. – Tá com vergonha de mim porque?

- De-desculpe... É que... Nunca vi um homem tão belo quanto o senhor! – ela disse admirada, com os olhinhos brilhando enquanto me olhava da cabeça aos pés.

Homem?!
Eu sempre fui uma mulher! Ruiva, linda, com peitos enormes e uma cinturinha maravilhosa... Do que ela estava falando?

Ao olhar ao redor, notei que eu estava numa loja de espelhos. Como eu não havia percebido isso antes não era importante, a prioridade no momento era entender qual era a minha situação.
Ao ficar de frente a um dos espelhos, percebi que... Eu era mesmo um homem.
E que homem gostoso eu era!
Meu cabelo curto e cor de vinho tinto era arrepiado, e bagunçadamente sexy. Meus musculos eram quase tão definidos quanto os de Kratos, e devo dizer que eu era muito mais bonito do que todos os caras que já vi na vida.
Exceto um...

- Cain! – exclamei surpreso, ao me lembrar que estava procurando pelo meu namorado.

- O senhor quis dizer Caina, não é? – a mocinha me perguntou timidamente.

- Caina...? – perguntei lentamente, franzindo as sobrancelhas e tentando compreender. – Ah, tanto faz! Onde está essa pessoa? – perguntei em fim.

- Caina é o sacrifício deste festival... Ela é a virgem que será sacrificada aos deuses esta tarde.

Arregalei os olhos, sentindo o desespero me subir à garganta.
Caina seria o sacrifício da vez? Oh, não... Não acredito! Preciso fazer algo!

- Uma virgem tão bela e pura não pode morrer em vão nesta tolice! – eu disse heroicamente.

- Oooh! – ela cobriu a boca com as mãos. – N-não fale deste jeito, ou os deuses se zangarão...

- Os deuses que se fodam, minha jovem. – eu disse seriamente. – Para salvar Caina, desafio todos os deuses! – disse novamente num tom decidido e heroico, fazendo uma pose dramática ao apontar para os céus de forma desafiadora. – E para desvirginá-la, desafiaria todos os demônios também. – completei a frase, sorrindo sonhadoramente ao me imaginar com a doce Caina em meus braços.

- Oh, o senhor é tão... Tão... – ela desmaiou antes de terminar a frase.

“Bem, parece que a moça não aguentou toda a grandiosidade do gostosíssimo guerreiro Hell.”, conclui com simplicidade. Ah, eu havia acabado de me lembrar que eu era um guerreiro consagrado.

A loja ao meu redor havia se modificado um pouco enquanto eu conversava com a garota. Além dos espelhos, agora haviam armaduras e todo o tipo de equipamento de luta.
Cobri minha nudez (sim, porque eu estava nu esse tempo todo) com aquela maravilhosa armadura dourada, peguei as armas que mais me chamaram a atenção, e corri para onde o povo se reunia, alvoroçado.

- Eu quero salvar a donzela Caina! Conte-me, povo egípcio que não gosta de usar roupas! Conte-me o que preciso fazer! – perguntei em voz alta, levantando minha espada para chamar a atenção.

- Desafie os guerreiros! – um cidadão me disse.

- O sacrifício é para o deus da guerra! Se um guerreiro desafiar nossos três guerreiros mais fortes e os vencer, a virgem não precisará mais ser sacrificada!

- Obrigado pela informação, homens! – eu agradeci.

Eu não sabia porque todos nós estávamos gritando, afinal o ambiente era relativamente silencioso.
Mas isso não tinha importância.

- Round One! – uma voz robótica, vindo sabe-se lá da onde, anunciou.

Subitamente, um telão apereceu na ponta da arena. Nele, pude ver Caina.
Ela era linda. Muito mais bela do que eu lembrava!
Estava nua, tendo suas intimidades cobertas apenas por seus longos e lisos cabelos brancos. Seu corpo moreno de pele macia estava adornado por enfeites dourados, e seus pequenos seios estavam escondidos por trás de correntes e pingentes de ouro.
Seu rosto delicado com grandes e inocentes olhos cinza-esverdeados estava triste, e ela parecia angustiada.

- Hell... Oh, Hell! Me salve, grande guerreiro... Me salve, e serei eternamente sua! – ela suplicou, com os olhos ficando cheios de lágrimas.

- Caina, eu te amo! E provavei este amor ao derrotar os... – não pude terminar minha frase, pois caí no chão.

Sofri um forte puxão na perna e caí. Ao olhar para meu tornozelo, vi uma grossa raíz de arvore enrolada nele.

Do céu, uma fada veio voando em minha direção. Era Nana , praticamente irreconhecível com aquela roupa de dominatrix e sorriso maldoso.

- Ora, ora... Será uma pena matar um homem lindo como você, mas não tenho escolha. – ela desdenhava de mim enquanto andava sinuosamente em minha direção.

- Nana! O que está fazendo? Cadê aquela japinha fofa com cabelo cor de rosa que eu conheço?

- Ela morreu, meu caro. Morreu e deu lugar à fada guerreira mais poderosa de todo o Egito.

- Sendo assim... Não tenho escolha! – avancei pra cima dela com a minha espada, mas ela desviou com agilidade.

A luta seguiu desse modo por uns vinte minutos. Ela fugia de todos os meus ataques enquanto ria e zombava de mim. Eu estava começando a ficar cansado, mas ela parecia apenas estar se divertindo.
Se a luta continuasse assim, eu definitivamente estaria em maus lençóis. 

- Pare de fugir, Nana! Tá com medo, é?

- Medo de que? Você nem sabe o que fazer com essa espada! – ela ria de forma escandalosa. – Você não tem nada que me atinja!

Ela me fez ter uma ideia....
Decidi então apelar.

- Você tem razão... Mas eu tenho algo que pode atingir o seu namoro. – eu sorri misteriosamente.

O sorriso desapareceu do rosto dela. Nana me olhava apreensivamente.

- Desculpe por isso, Nana. Mas se você não se render agora, eu conto aqui, pra todo mundo, os sonhos eróticos que você teve com o Luke quando era uma pre adolescente!

- Oh, não! – ela exclamou desesperada, olhando ao redor a fim de ver as reações do público ao redor. – E-eu... Eu nunca...

- Sim, Nana... Aqueles sonhos que você me contou! Da época em que você desprezava o Luke! O que acha disso, hein? O que acha dele descobrir que você era uma tarada louquinha por ele desde a mais tenra idade? Que aquele seu jeito de CDF metida que empinava o nariz pra ele era só pose?

- Pare, pare! – Nana tampava os ouvidos, em encolhida num canto em posição fetal. – Eu me rendo!

- Hell wins! – a voz robótica soou, e vários gritos e aplausos foram ouvidos da plateia.

- Hell! Você é o guerreiro mais incrível que existe! – Caina voltou a aparecer no telão, desta vez mostrando um trêmulo sorriso por entre as lágrimas que escorriam pelo seu rosto jovem.

Não houve muito tempo para comemorar, pois a próxima luta já estava prestes a começar.

- Round Two!

Kratos saiu de trás do telão, e andava até o centro da arena de forma confiante.

- Então, Hell... Você por aqui? Quem diria. – re repente o jeito calmo dele desapareceu, e um Kratos furioso veio correndo na minha direção. – Não vou maneirar só porque você é um amigo! – ele rosnou, com uma voz grossa e assustadora que fez todos os meus pelos se arrepiarem.

Sem saber muito bem o que fazer, corri também.
E ficamos nessa brincadeira por meia hora, pelo menos. Ele corria atrás de mim e eu corria dele. Corremos em círculos, contornando a arena por dentro.

- Chega, Kratos! Tem um jeito mais fácil de resolver isso! Vamos agir como dois homens maduros e sensatos! – eu gritei para ele enquanto corria.

- Ah, é? E qual é esse jeito? – ele me respondeu de modo arrogante, sem parar de me perseguir.
- Pare, pare! – eu fiz sinal para ele parar.

- O que foi, oras? – parando de correr, ele me perguntou impaciente, de braços cruzados sobre o peito nu cheio de cicatrizes.

- Vamos fazer assim! – com um movimento rápido de minha espada, cortei a calça que ele usava. Sua única peça de roupa caiu toda no chão de uma vez só.

- Porque você fez isso?! – ele me perguntou, furioso. – Era da Diesel, filho da puta!

- Acalme-se, dragão! Deixemos que o povo decida.

Ele me olhou seriamente por um momento, e balançou a cabeça em sinal de afirmação.

- Sim, compreendo. Faz sentido. – ele disse.

Tirei minha armadura, e ambos nos viramos de frente à plateia.

- Dêem suas notas! Qual de nós é mais gostoso? – eu perguntei.

Após três minutos de múrmurios agitados, as pessoas voltaram a olhar para nós, indicando terem chegado a uma conclusão. Do meio do povo, Xuxa apareceu.
Sorrindo de forma radiante, ela ficou a frente de todos, pronta para dar o resultado final.

- E o povo escolheu, como guerreiro mais gostoso...

Era possível sentir a tensão no ar.
Todos estavam ansiosos, o que indicava que a votação havia sido acirrada.

- O Hell! – a loira anunciou, e vários gritos de comemoração e também de vaias foram ouvidos daquele público entusiasmado.

- Quer saber? – Kratos disse, balançando a cabeça e parecendo cansado daquilo tudo. – O que importa é que o Yuudai me prefere.

- OOOOHHHH! – exclamações de surpresa foram ouvidas da platéia, diante da subita revelação.

- EU SABIA! – gritei, triunfiante. – Eu sabia que vocês tavam se comendo! – Eu pulava e apontava pra Kratos, que recolhia a calça rasgada do chão.

- Ah, cala a boca e não enche. – ele disse, e saiu da arena.

- Hell wins! – a plateia voltou a gritar e comemorar.

Eu vesti rapidamente minha armadura, e olhei ansioso para o telão, a fim de ver Caina mais uma vez.
Pro meu desapontamento, ela estava dormindo.
Havia um bilhete colado na testa dela, que dizia: “Desculpe, querido. Fiquei com sono. Me acorda quando ganhar, beijos!”

Dei de ombros, meio triste.

- Final Round!

Tudo ficou escuro.
Como no palco de um teatro, uma única luz apareceu acima de mim.

- Na teoria microeconômica em particular, os conceitos de oferta e demanda referem-se à determinação do preço e quantidade num mercado de concorrência perfeita. – uma voz séria e monótona falou.

- Quem está aí?! – eu perguntei, assustado.

Um outro foco de luz apareceu na minha frente, iluminando Yuudai.
Ele estava com aqueles óculos retangulares, e parecia um professor.

- Com uma base de dados sobre renda e consumo e com as técnicas econométricas, o modelo que procura saber se determinada renda de uma família influencia em seu consumo pode ser estimado e a hipótese nula pode ser testada...

- NÃO! NÃO, PARE! POR FAVOR! – eu gritava em agonia.

- Se a hipótese nula for rejeitada, podemos dizer com um certo nível de confiança que a renda da família influencia seu consumo... – indiferente ao meu desespero, ele continuava a falar.

Eu não sabia se ia aguentar.
Pela primeira vez, duvidei de mim mesmo.

- Isso é... CHATO DEMAIS...! – eu gritei em tom de súplica, mas Yuudai não tinha misericórdia. – É tortura!

- Não é tortura, Hell. É economia. – ele sorriu discretamente, de forma sádica. – Continuando da onde eu estava... Oh, que tal se eu falar um pouco da Teoria dos Jogos?

- NÃÃÃO!

- A teoria dos jogos é um ramo da matemática aplicada que estuda as interações estratégicas entre agentes. Nos jogos estratégicos, agentes escolhem...

- Pare, Yuudai! Eu lhe imploro! – eu lhe pedi, entre lágrimas.

Ajoelhado no chão, eu segurava os pés de Yuudai e abaixava a minha cabeça, em total submissão.
Mas ele simplesmente não tinha piedade, compaixão, nem amor no coração.
Afinal, era um ótimo economista.

- Renda-se, e eu paro. – ele me olhava de cima, autoritariamente.

- N-não posso, Yuudai... Preciso salvar Caina! – eu continuava chorando.

- Ora, salvar Caina? – ele pareceu surpreso.

- Sim, ela é a virgem que está pra ser sacrificada. – eu lhe expliquei.
- Ah, vai lá então. – ele sorriu, e me deu a mão para que eu levantasse. – Foi mal aí ter te atrasado, fica na paz.

- Fica na paz, cara. – dei um tapa nas costas dele, e assim nos despedimos.

- Hell wins! – a voz robótica anunciou, e todas as luzes se acenderam.

Na verdade, foi o sol que se acendeu.
Porque... era de dia e não fazia sentido nenhum ter ficado tudo escuro.

Em meio aos gritos da plateia, extasiada com minha força, meu heroísmo e minha inteligência, eu andei até aquela torre extremamente alta. E quando me aproximei dela, vi que tinha uma porta.

Ao abrir a porta, me deparei com uma escada que parecia não ter fim. Sem hesitar diante de tantos degraus, subi aquilo tudo correndo.

E após quarenta minutos de escada, cheguei ao quarto de Caina.
E lá estava a minha princesa...

- Oh, Hell! Você conseguiu! – ela exclamou contente, correndo em minha direção e me abraçando.

- Sim, meu amor! – eu a abraçava de volta. – Agora, vamos fazer sexo até o mundo acabar! – eu disse animado, com um sorriso tão grande que mal cabia em meu rosto.

- Sobre isso... – ela desviou o olhar, parecendo envergonhada. – Eu... Na verdade... Não sou virgem.

- Mas o que?! – exclamei, desapontado.

- Eu já dei pro Egito inteiro. – sorrindo meio sem graça, ela deu de ombros.

- Bem... – cocei a cabeça, me recompondo. – Fazer o que então, né. – voltei a sorrir, e a peguei no colo.

Levei Caina até a enorme cama, cheia de lençóis de seda e jóias preciosas que se espalhavam pela cama e por todo o aposento, ricamente decorado.

- Oh, Hell... Me faça sua... – ela pediu de olhos fechados, e eu me sentia tão feliz que quase voltei a chorar.

- Claro, minha querida!

- Hell? Hell...! – ela me chamou.

Ela me chamou com voz de homem.

Como assim?! O que estava acontecendo?!
Aquela voz não combinava com seu lindo corpinho de jovem moça!

- Hell! – ela me chamou novamente.
- O que foi...? – eu lhe perguntei, confuso.

- Acorda, Hell... – ela disse, e eu abri os olhos.

Eu estava deitada no sofá da sala, e Cain me chamava.

- Não vai querer almoçar? O Luke descongelou uma lasanha de quatro queijos, e o Louis daqui a pouco deve aparecer com o refrigerante. – ele sorriu simpaticamente enquanto falava, ao ver que eu finalmente havia acordado.

- AHHHH! – gritei, frustada. Peguei uma almofada, e com ela cobri meu rosto.

- O que foi? – ele me perguntava sem entender nada. – Se não quiser lasanha, acho que ainda tem carne daquele churrasco do outro dia...

- Não é isso, Cain! – tirei a almofada da frente do meu rosto e a joguei no chão, irritada. – Eu tava quase te comendo!

- O que?!

- Mais alguns minutos e eu teria o melhor sonho da minha vida!