E
lá estava eu, no Egito Antigo.
Olhando
ao redor, percebi rapidamente que algum tipo de evento extraordinario estava
ocorrendo. As pessoas andavam pra lá e pra cá agitadas, e eu não entendia nada.
Me aproximei de uma moça que olhava para uma enorme torre que estava no centro
de uma arena. Vi que muitas pessoas olhavam para o mesmo lugar que ela, e
comentavam coisas umas com as outras.
-
Você aí com os peitos de fora! – chamei a moça. Eu sorria pra ela, tentando
usar da simpatia para conseguir informações.
E
sim, ela estava mesmo com os peitos de fora, afinal aquilo era o Egito Antigo e
não fazia parte do costume daquele povo vestir muitas roupas.
-
Oh! – a mocinha ficou corada ao me ver, e pareceu assustada. Desajeitadamente
tentou cobrir o tronco nu com os braços.
-
Que foi?! – eu não entendi a sua reação. E eu não tinha tempo a perder com
essas frescuras de mulherzinha! Queria saber logo o que estava acontecendo
naquele lugar. – Tá com vergonha de mim porque?
-
De-desculpe... É que... Nunca vi um homem tão belo quanto o senhor! – ela disse
admirada, com os olhinhos brilhando enquanto me olhava da cabeça aos pés.
Homem?!
Eu
sempre fui uma mulher! Ruiva, linda, com peitos enormes e uma cinturinha
maravilhosa... Do que ela estava falando?
Ao
olhar ao redor, notei que eu estava numa loja de espelhos. Como eu não havia
percebido isso antes não era importante, a prioridade no momento era entender
qual era a minha situação.
Ao
ficar de frente a um dos espelhos, percebi que... Eu era mesmo um homem.
E
que homem gostoso eu era!
Meu
cabelo curto e cor de vinho tinto era arrepiado, e bagunçadamente sexy. Meus
musculos eram quase tão definidos quanto os de Kratos, e devo dizer que eu era
muito mais bonito do que todos os caras que já vi na vida.
Exceto
um...
-
Cain! – exclamei surpreso, ao me lembrar que estava procurando pelo meu
namorado.
-
O senhor quis dizer Caina, não é? – a mocinha me perguntou timidamente.
-
Caina...? – perguntei lentamente, franzindo as sobrancelhas e tentando
compreender. – Ah, tanto faz! Onde está essa pessoa? – perguntei em fim.
-
Caina é o sacrifício deste festival... Ela é a virgem que será sacrificada aos
deuses esta tarde.
Arregalei
os olhos, sentindo o desespero me subir à garganta.
Caina
seria o sacrifício da vez? Oh, não... Não acredito! Preciso fazer algo!
-
Uma virgem tão bela e pura não pode morrer em vão nesta tolice! – eu disse
heroicamente.
-
Oooh! – ela cobriu a boca com as mãos. – N-não fale deste jeito, ou os deuses
se zangarão...
-
Os deuses que se fodam, minha jovem. – eu disse seriamente. – Para salvar
Caina, desafio todos os deuses! – disse novamente num tom decidido e heroico,
fazendo uma pose dramática ao apontar para os céus de forma desafiadora. – E
para desvirginá-la, desafiaria todos os demônios também. – completei a frase,
sorrindo sonhadoramente ao me imaginar com a doce Caina em meus braços.
-
Oh, o senhor é tão... Tão... – ela desmaiou antes de terminar a frase.
“Bem,
parece que a moça não aguentou toda a grandiosidade do gostosíssimo guerreiro
Hell.”, conclui com simplicidade. Ah, eu havia acabado de me lembrar que eu era
um guerreiro consagrado.
A
loja ao meu redor havia se modificado um pouco enquanto eu conversava com a
garota. Além dos espelhos, agora haviam armaduras e todo o tipo de equipamento
de luta.
Cobri
minha nudez (sim, porque eu estava nu esse tempo todo) com aquela maravilhosa
armadura dourada, peguei as armas que mais me chamaram a atenção, e corri para
onde o povo se reunia, alvoroçado.
-
Eu quero salvar a donzela Caina! Conte-me, povo egípcio que não gosta de usar
roupas! Conte-me o que preciso fazer! – perguntei em voz alta, levantando minha
espada para chamar a atenção.
-
Desafie os guerreiros! – um cidadão me disse.
-
O sacrifício é para o deus da guerra! Se um guerreiro desafiar nossos três
guerreiros mais fortes e os vencer, a virgem não precisará mais ser
sacrificada!
-
Obrigado pela informação, homens! – eu agradeci.
Eu
não sabia porque todos nós estávamos gritando, afinal o ambiente era
relativamente silencioso.
Mas
isso não tinha importância.
-
Round One! – uma voz robótica, vindo sabe-se lá da onde, anunciou.
Subitamente,
um telão apereceu na ponta da arena. Nele, pude ver Caina.
Ela
era linda. Muito mais bela do que eu lembrava!
Estava
nua, tendo suas intimidades cobertas apenas por seus longos e lisos cabelos
brancos. Seu corpo moreno de pele macia estava adornado por enfeites dourados,
e seus pequenos seios estavam escondidos por trás de correntes e pingentes de
ouro.
Seu
rosto delicado com grandes e inocentes olhos cinza-esverdeados estava triste, e
ela parecia angustiada.
-
Hell... Oh, Hell! Me salve, grande guerreiro... Me salve, e serei eternamente
sua! – ela suplicou, com os olhos ficando cheios de lágrimas.
-
Caina, eu te amo! E provavei este amor ao derrotar os... – não pude terminar
minha frase, pois caí no chão.
Sofri
um forte puxão na perna e caí. Ao olhar para meu tornozelo, vi uma grossa raíz
de arvore enrolada nele.
Do
céu, uma fada veio voando em minha direção. Era Nana , praticamente irreconhecível
com aquela roupa de dominatrix e sorriso maldoso.
-
Ora, ora... Será uma pena matar um homem lindo como você, mas não tenho
escolha. – ela desdenhava de mim enquanto andava sinuosamente em minha direção.
-
Nana! O que está fazendo? Cadê aquela japinha fofa com cabelo cor de rosa que
eu conheço?
-
Ela morreu, meu caro. Morreu e deu lugar à fada guerreira mais poderosa de todo
o Egito.
-
Sendo assim... Não tenho escolha! – avancei pra cima dela com a minha espada,
mas ela desviou com agilidade.
A
luta seguiu desse modo por uns vinte minutos. Ela fugia de todos os meus
ataques enquanto ria e zombava de mim. Eu estava começando a ficar cansado, mas
ela parecia apenas estar se divertindo.
Se
a luta continuasse assim, eu definitivamente estaria em maus lençóis.
-
Pare de fugir, Nana! Tá com medo, é?
-
Medo de que? Você nem sabe o que fazer com essa espada! – ela ria de forma
escandalosa. – Você não tem nada que me atinja!
Ela
me fez ter uma ideia....
Decidi
então apelar.
-
Você tem razão... Mas eu tenho algo que pode atingir o seu namoro. – eu sorri
misteriosamente.
O
sorriso desapareceu do rosto dela. Nana me olhava apreensivamente.
-
Desculpe por isso, Nana. Mas se você não se render agora, eu conto aqui, pra
todo mundo, os sonhos eróticos que você teve com o Luke quando era uma pre
adolescente!
-
Oh, não! – ela exclamou desesperada, olhando ao redor a fim de ver as reações
do público ao redor. – E-eu... Eu nunca...
-
Sim, Nana... Aqueles sonhos que você me contou! Da época em que você desprezava
o Luke! O que acha disso, hein? O que acha dele descobrir que você era uma
tarada louquinha por ele desde a mais tenra idade? Que aquele seu jeito de CDF
metida que empinava o nariz pra ele era só pose?
-
Pare, pare! – Nana tampava os ouvidos, em encolhida num canto em posição fetal.
– Eu me rendo!
-
Hell wins! – a voz robótica soou, e vários gritos e aplausos foram ouvidos da
plateia.
-
Hell! Você é o guerreiro mais incrível que existe! – Caina voltou a aparecer no
telão, desta vez mostrando um trêmulo sorriso por entre as lágrimas que
escorriam pelo seu rosto jovem.
Não
houve muito tempo para comemorar, pois a próxima luta já estava prestes a
começar.
-
Round Two!
Kratos
saiu de trás do telão, e andava até o centro da arena de forma confiante.
-
Então, Hell... Você por aqui? Quem diria. – re repente o jeito calmo dele
desapareceu, e um Kratos furioso veio correndo na minha direção. – Não vou
maneirar só porque você é um amigo! – ele rosnou, com uma voz grossa e
assustadora que fez todos os meus pelos se arrepiarem.
Sem
saber muito bem o que fazer, corri também.
E
ficamos nessa brincadeira por meia hora, pelo menos. Ele corria atrás de mim e
eu corria dele. Corremos em círculos, contornando a arena por dentro.
-
Chega, Kratos! Tem um jeito mais fácil de resolver isso! Vamos agir como dois
homens maduros e sensatos! – eu gritei para ele enquanto corria.
-
Ah, é? E qual é esse jeito? – ele me respondeu de modo arrogante, sem parar de
me perseguir.
-
Pare, pare! – eu fiz sinal para ele parar.
-
O que foi, oras? – parando de correr, ele me perguntou impaciente, de braços
cruzados sobre o peito nu cheio de cicatrizes.
-
Vamos fazer assim! – com um movimento rápido de minha espada, cortei a calça
que ele usava. Sua única peça de roupa caiu toda no chão de uma vez só.
-
Porque você fez isso?! – ele me perguntou, furioso. – Era da Diesel, filho da
puta!
-
Acalme-se, dragão! Deixemos que o povo decida.
Ele
me olhou seriamente por um momento, e balançou a cabeça em sinal de afirmação.
-
Sim, compreendo. Faz sentido. – ele disse.
Tirei
minha armadura, e ambos nos viramos de frente à plateia.
-
Dêem suas notas! Qual de nós é mais gostoso? – eu perguntei.
Após
três minutos de múrmurios agitados, as pessoas voltaram a olhar para nós,
indicando terem chegado a uma conclusão. Do meio do povo, Xuxa apareceu.
Sorrindo
de forma radiante, ela ficou a frente de todos, pronta para dar o resultado
final.
-
E o povo escolheu, como guerreiro mais gostoso...
Era
possível sentir a tensão no ar.
Todos
estavam ansiosos, o que indicava que a votação havia sido acirrada.
-
O Hell! – a loira anunciou, e vários gritos de comemoração e também de vaias
foram ouvidos daquele público entusiasmado.
-
Quer saber? – Kratos disse, balançando a cabeça e parecendo cansado daquilo
tudo. – O que importa é que o Yuudai me prefere.
-
OOOOHHHH! – exclamações de surpresa foram ouvidas da platéia, diante da subita
revelação.
-
EU SABIA! – gritei, triunfiante. – Eu sabia que vocês tavam se comendo! – Eu
pulava e apontava pra Kratos, que recolhia a calça rasgada do chão.
-
Ah, cala a boca e não enche. – ele disse, e saiu da arena.
-
Hell wins! – a plateia voltou a gritar e comemorar.
Eu
vesti rapidamente minha armadura, e olhei ansioso para o telão, a fim de ver
Caina mais uma vez.
Pro
meu desapontamento, ela estava dormindo.
Havia
um bilhete colado na testa dela, que dizia: “Desculpe, querido. Fiquei com
sono. Me acorda quando ganhar, beijos!”
Dei
de ombros, meio triste.
-
Final Round!
Tudo
ficou escuro.
Como
no palco de um teatro, uma única luz apareceu acima de mim.
-
Na teoria microeconômica em particular, os conceitos de oferta e demanda
referem-se à determinação do preço e quantidade num mercado de concorrência
perfeita. – uma voz séria e monótona falou.
-
Quem está aí?! – eu perguntei, assustado.
Um
outro foco de luz apareceu na minha frente, iluminando Yuudai.
Ele
estava com aqueles óculos retangulares, e parecia um professor.
- Com uma base de dados
sobre renda e consumo e com as técnicas econométricas, o modelo que procura
saber se determinada renda de uma família influencia em seu consumo pode ser
estimado e a hipótese nula pode ser testada...
- NÃO! NÃO, PARE! POR
FAVOR! – eu gritava em agonia.
- Se a hipótese nula for
rejeitada, podemos dizer com um certo nível de confiança que a renda da família
influencia seu consumo... – indiferente ao meu desespero, ele continuava a
falar.
Eu não sabia se ia
aguentar.
Pela primeira vez, duvidei
de mim mesmo.
- Isso é... CHATO
DEMAIS...! – eu gritei em tom de súplica, mas Yuudai não tinha misericórdia. –
É tortura!
- Não é tortura, Hell. É economia.
– ele sorriu discretamente, de forma sádica. – Continuando da onde eu estava...
Oh, que tal se eu falar um pouco da Teoria dos Jogos?
- NÃÃÃO!
- A teoria
dos jogos é um ramo da matemática aplicada que estuda as interações estratégicas
entre agentes. Nos jogos estratégicos, agentes escolhem...
- Pare, Yuudai! Eu lhe
imploro! – eu lhe pedi, entre lágrimas.
Ajoelhado no chão, eu
segurava os pés de Yuudai e abaixava a minha cabeça, em total submissão.
Mas ele simplesmente não
tinha piedade, compaixão, nem amor no coração.
Afinal, era um ótimo
economista.
-
Renda-se, e eu paro. – ele me olhava de cima, autoritariamente.
-
N-não posso, Yuudai... Preciso salvar Caina! – eu continuava chorando.
-
Ora, salvar Caina? – ele pareceu surpreso.
-
Sim, ela é a virgem que está pra ser sacrificada. – eu lhe expliquei.
-
Ah, vai lá então. – ele sorriu, e me deu a mão para que eu levantasse. – Foi
mal aí ter te atrasado, fica na paz.
-
Fica na paz, cara. – dei um tapa nas costas dele, e assim nos despedimos.
-
Hell wins! – a voz robótica anunciou, e todas as luzes se acenderam.
Na
verdade, foi o sol que se acendeu.
Porque...
era de dia e não fazia sentido nenhum ter ficado tudo escuro.
Em
meio aos gritos da plateia, extasiada com minha força, meu heroísmo e minha
inteligência, eu andei até aquela torre extremamente alta. E quando me
aproximei dela, vi que tinha uma porta.
Ao
abrir a porta, me deparei com uma escada que parecia não ter fim. Sem hesitar
diante de tantos degraus, subi aquilo tudo correndo.
E
após quarenta minutos de escada, cheguei ao quarto de Caina.
E
lá estava a minha princesa...
-
Oh, Hell! Você conseguiu! – ela exclamou contente, correndo em minha direção e
me abraçando.
-
Sim, meu amor! – eu a abraçava de volta. – Agora, vamos fazer sexo até o mundo
acabar! – eu disse animado, com um sorriso tão grande que mal cabia em meu
rosto.
-
Sobre isso... – ela desviou o olhar, parecendo envergonhada. – Eu... Na
verdade... Não sou virgem.
-
Mas o que?! – exclamei, desapontado.
-
Eu já dei pro Egito inteiro. – sorrindo meio sem graça, ela deu de ombros.
-
Bem... – cocei a cabeça, me recompondo. – Fazer o que então, né. – voltei a
sorrir, e a peguei no colo.
Levei
Caina até a enorme cama, cheia de lençóis de seda e jóias preciosas que se
espalhavam pela cama e por todo o aposento, ricamente decorado.
-
Oh, Hell... Me faça sua... – ela pediu de olhos fechados, e eu me sentia tão
feliz que quase voltei a chorar.
-
Claro, minha querida!
-
Hell? Hell...! – ela me chamou.
Ela
me chamou com voz de homem.
Como
assim?! O que estava acontecendo?!
Aquela
voz não combinava com seu lindo corpinho de jovem moça!
-
Hell! – ela me chamou novamente.
-
O que foi...? – eu lhe perguntei, confuso.
-
Acorda, Hell... – ela disse, e eu abri os olhos.
Eu
estava deitada no sofá da sala, e Cain me chamava.
-
Não vai querer almoçar? O Luke descongelou uma lasanha de quatro queijos, e o
Louis daqui a pouco deve aparecer com o refrigerante. – ele sorriu simpaticamente
enquanto falava, ao ver que eu finalmente havia acordado.
-
AHHHH! – gritei, frustada. Peguei uma almofada, e com ela cobri meu rosto.
-
O que foi? – ele me perguntava sem entender nada. – Se não quiser lasanha, acho
que ainda tem carne daquele churrasco do outro dia...
-
Não é isso, Cain! – tirei a almofada da frente do meu rosto e a joguei no chão,
irritada. – Eu tava quase te comendo!
-
O que?!
-
Mais alguns minutos e eu teria o melhor sonho da minha vida!

Nenhum comentário:
Postar um comentário