sábado, 5 de janeiro de 2013

44. [especial nonsense] O Guerreiro Hell e a Donzela Caina





E lá estava eu, no Egito Antigo.
Olhando ao redor, percebi rapidamente que algum tipo de evento extraordinario estava ocorrendo. As pessoas andavam pra lá e pra cá agitadas, e eu não entendia nada. Me aproximei de uma moça que olhava para uma enorme torre que estava no centro de uma arena. Vi que muitas pessoas olhavam para o mesmo lugar que ela, e comentavam coisas umas com as outras.

- Você aí com os peitos de fora! – chamei a moça. Eu sorria pra ela, tentando usar da simpatia para conseguir informações.
E sim, ela estava mesmo com os peitos de fora, afinal aquilo era o Egito Antigo e não fazia parte do costume daquele povo vestir muitas roupas.

- Oh! – a mocinha ficou corada ao me ver, e pareceu assustada. Desajeitadamente tentou cobrir o tronco nu com os braços.

- Que foi?! – eu não entendi a sua reação. E eu não tinha tempo a perder com essas frescuras de mulherzinha! Queria saber logo o que estava acontecendo naquele lugar. – Tá com vergonha de mim porque?

- De-desculpe... É que... Nunca vi um homem tão belo quanto o senhor! – ela disse admirada, com os olhinhos brilhando enquanto me olhava da cabeça aos pés.

Homem?!
Eu sempre fui uma mulher! Ruiva, linda, com peitos enormes e uma cinturinha maravilhosa... Do que ela estava falando?

Ao olhar ao redor, notei que eu estava numa loja de espelhos. Como eu não havia percebido isso antes não era importante, a prioridade no momento era entender qual era a minha situação.
Ao ficar de frente a um dos espelhos, percebi que... Eu era mesmo um homem.
E que homem gostoso eu era!
Meu cabelo curto e cor de vinho tinto era arrepiado, e bagunçadamente sexy. Meus musculos eram quase tão definidos quanto os de Kratos, e devo dizer que eu era muito mais bonito do que todos os caras que já vi na vida.
Exceto um...

- Cain! – exclamei surpreso, ao me lembrar que estava procurando pelo meu namorado.

- O senhor quis dizer Caina, não é? – a mocinha me perguntou timidamente.

- Caina...? – perguntei lentamente, franzindo as sobrancelhas e tentando compreender. – Ah, tanto faz! Onde está essa pessoa? – perguntei em fim.

- Caina é o sacrifício deste festival... Ela é a virgem que será sacrificada aos deuses esta tarde.

Arregalei os olhos, sentindo o desespero me subir à garganta.
Caina seria o sacrifício da vez? Oh, não... Não acredito! Preciso fazer algo!

- Uma virgem tão bela e pura não pode morrer em vão nesta tolice! – eu disse heroicamente.

- Oooh! – ela cobriu a boca com as mãos. – N-não fale deste jeito, ou os deuses se zangarão...

- Os deuses que se fodam, minha jovem. – eu disse seriamente. – Para salvar Caina, desafio todos os deuses! – disse novamente num tom decidido e heroico, fazendo uma pose dramática ao apontar para os céus de forma desafiadora. – E para desvirginá-la, desafiaria todos os demônios também. – completei a frase, sorrindo sonhadoramente ao me imaginar com a doce Caina em meus braços.

- Oh, o senhor é tão... Tão... – ela desmaiou antes de terminar a frase.

“Bem, parece que a moça não aguentou toda a grandiosidade do gostosíssimo guerreiro Hell.”, conclui com simplicidade. Ah, eu havia acabado de me lembrar que eu era um guerreiro consagrado.

A loja ao meu redor havia se modificado um pouco enquanto eu conversava com a garota. Além dos espelhos, agora haviam armaduras e todo o tipo de equipamento de luta.
Cobri minha nudez (sim, porque eu estava nu esse tempo todo) com aquela maravilhosa armadura dourada, peguei as armas que mais me chamaram a atenção, e corri para onde o povo se reunia, alvoroçado.

- Eu quero salvar a donzela Caina! Conte-me, povo egípcio que não gosta de usar roupas! Conte-me o que preciso fazer! – perguntei em voz alta, levantando minha espada para chamar a atenção.

- Desafie os guerreiros! – um cidadão me disse.

- O sacrifício é para o deus da guerra! Se um guerreiro desafiar nossos três guerreiros mais fortes e os vencer, a virgem não precisará mais ser sacrificada!

- Obrigado pela informação, homens! – eu agradeci.

Eu não sabia porque todos nós estávamos gritando, afinal o ambiente era relativamente silencioso.
Mas isso não tinha importância.

- Round One! – uma voz robótica, vindo sabe-se lá da onde, anunciou.

Subitamente, um telão apereceu na ponta da arena. Nele, pude ver Caina.
Ela era linda. Muito mais bela do que eu lembrava!
Estava nua, tendo suas intimidades cobertas apenas por seus longos e lisos cabelos brancos. Seu corpo moreno de pele macia estava adornado por enfeites dourados, e seus pequenos seios estavam escondidos por trás de correntes e pingentes de ouro.
Seu rosto delicado com grandes e inocentes olhos cinza-esverdeados estava triste, e ela parecia angustiada.

- Hell... Oh, Hell! Me salve, grande guerreiro... Me salve, e serei eternamente sua! – ela suplicou, com os olhos ficando cheios de lágrimas.

- Caina, eu te amo! E provavei este amor ao derrotar os... – não pude terminar minha frase, pois caí no chão.

Sofri um forte puxão na perna e caí. Ao olhar para meu tornozelo, vi uma grossa raíz de arvore enrolada nele.

Do céu, uma fada veio voando em minha direção. Era Nana , praticamente irreconhecível com aquela roupa de dominatrix e sorriso maldoso.

- Ora, ora... Será uma pena matar um homem lindo como você, mas não tenho escolha. – ela desdenhava de mim enquanto andava sinuosamente em minha direção.

- Nana! O que está fazendo? Cadê aquela japinha fofa com cabelo cor de rosa que eu conheço?

- Ela morreu, meu caro. Morreu e deu lugar à fada guerreira mais poderosa de todo o Egito.

- Sendo assim... Não tenho escolha! – avancei pra cima dela com a minha espada, mas ela desviou com agilidade.

A luta seguiu desse modo por uns vinte minutos. Ela fugia de todos os meus ataques enquanto ria e zombava de mim. Eu estava começando a ficar cansado, mas ela parecia apenas estar se divertindo.
Se a luta continuasse assim, eu definitivamente estaria em maus lençóis. 

- Pare de fugir, Nana! Tá com medo, é?

- Medo de que? Você nem sabe o que fazer com essa espada! – ela ria de forma escandalosa. – Você não tem nada que me atinja!

Ela me fez ter uma ideia....
Decidi então apelar.

- Você tem razão... Mas eu tenho algo que pode atingir o seu namoro. – eu sorri misteriosamente.

O sorriso desapareceu do rosto dela. Nana me olhava apreensivamente.

- Desculpe por isso, Nana. Mas se você não se render agora, eu conto aqui, pra todo mundo, os sonhos eróticos que você teve com o Luke quando era uma pre adolescente!

- Oh, não! – ela exclamou desesperada, olhando ao redor a fim de ver as reações do público ao redor. – E-eu... Eu nunca...

- Sim, Nana... Aqueles sonhos que você me contou! Da época em que você desprezava o Luke! O que acha disso, hein? O que acha dele descobrir que você era uma tarada louquinha por ele desde a mais tenra idade? Que aquele seu jeito de CDF metida que empinava o nariz pra ele era só pose?

- Pare, pare! – Nana tampava os ouvidos, em encolhida num canto em posição fetal. – Eu me rendo!

- Hell wins! – a voz robótica soou, e vários gritos e aplausos foram ouvidos da plateia.

- Hell! Você é o guerreiro mais incrível que existe! – Caina voltou a aparecer no telão, desta vez mostrando um trêmulo sorriso por entre as lágrimas que escorriam pelo seu rosto jovem.

Não houve muito tempo para comemorar, pois a próxima luta já estava prestes a começar.

- Round Two!

Kratos saiu de trás do telão, e andava até o centro da arena de forma confiante.

- Então, Hell... Você por aqui? Quem diria. – re repente o jeito calmo dele desapareceu, e um Kratos furioso veio correndo na minha direção. – Não vou maneirar só porque você é um amigo! – ele rosnou, com uma voz grossa e assustadora que fez todos os meus pelos se arrepiarem.

Sem saber muito bem o que fazer, corri também.
E ficamos nessa brincadeira por meia hora, pelo menos. Ele corria atrás de mim e eu corria dele. Corremos em círculos, contornando a arena por dentro.

- Chega, Kratos! Tem um jeito mais fácil de resolver isso! Vamos agir como dois homens maduros e sensatos! – eu gritei para ele enquanto corria.

- Ah, é? E qual é esse jeito? – ele me respondeu de modo arrogante, sem parar de me perseguir.
- Pare, pare! – eu fiz sinal para ele parar.

- O que foi, oras? – parando de correr, ele me perguntou impaciente, de braços cruzados sobre o peito nu cheio de cicatrizes.

- Vamos fazer assim! – com um movimento rápido de minha espada, cortei a calça que ele usava. Sua única peça de roupa caiu toda no chão de uma vez só.

- Porque você fez isso?! – ele me perguntou, furioso. – Era da Diesel, filho da puta!

- Acalme-se, dragão! Deixemos que o povo decida.

Ele me olhou seriamente por um momento, e balançou a cabeça em sinal de afirmação.

- Sim, compreendo. Faz sentido. – ele disse.

Tirei minha armadura, e ambos nos viramos de frente à plateia.

- Dêem suas notas! Qual de nós é mais gostoso? – eu perguntei.

Após três minutos de múrmurios agitados, as pessoas voltaram a olhar para nós, indicando terem chegado a uma conclusão. Do meio do povo, Xuxa apareceu.
Sorrindo de forma radiante, ela ficou a frente de todos, pronta para dar o resultado final.

- E o povo escolheu, como guerreiro mais gostoso...

Era possível sentir a tensão no ar.
Todos estavam ansiosos, o que indicava que a votação havia sido acirrada.

- O Hell! – a loira anunciou, e vários gritos de comemoração e também de vaias foram ouvidos daquele público entusiasmado.

- Quer saber? – Kratos disse, balançando a cabeça e parecendo cansado daquilo tudo. – O que importa é que o Yuudai me prefere.

- OOOOHHHH! – exclamações de surpresa foram ouvidas da platéia, diante da subita revelação.

- EU SABIA! – gritei, triunfiante. – Eu sabia que vocês tavam se comendo! – Eu pulava e apontava pra Kratos, que recolhia a calça rasgada do chão.

- Ah, cala a boca e não enche. – ele disse, e saiu da arena.

- Hell wins! – a plateia voltou a gritar e comemorar.

Eu vesti rapidamente minha armadura, e olhei ansioso para o telão, a fim de ver Caina mais uma vez.
Pro meu desapontamento, ela estava dormindo.
Havia um bilhete colado na testa dela, que dizia: “Desculpe, querido. Fiquei com sono. Me acorda quando ganhar, beijos!”

Dei de ombros, meio triste.

- Final Round!

Tudo ficou escuro.
Como no palco de um teatro, uma única luz apareceu acima de mim.

- Na teoria microeconômica em particular, os conceitos de oferta e demanda referem-se à determinação do preço e quantidade num mercado de concorrência perfeita. – uma voz séria e monótona falou.

- Quem está aí?! – eu perguntei, assustado.

Um outro foco de luz apareceu na minha frente, iluminando Yuudai.
Ele estava com aqueles óculos retangulares, e parecia um professor.

- Com uma base de dados sobre renda e consumo e com as técnicas econométricas, o modelo que procura saber se determinada renda de uma família influencia em seu consumo pode ser estimado e a hipótese nula pode ser testada...

- NÃO! NÃO, PARE! POR FAVOR! – eu gritava em agonia.

- Se a hipótese nula for rejeitada, podemos dizer com um certo nível de confiança que a renda da família influencia seu consumo... – indiferente ao meu desespero, ele continuava a falar.

Eu não sabia se ia aguentar.
Pela primeira vez, duvidei de mim mesmo.

- Isso é... CHATO DEMAIS...! – eu gritei em tom de súplica, mas Yuudai não tinha misericórdia. – É tortura!

- Não é tortura, Hell. É economia. – ele sorriu discretamente, de forma sádica. – Continuando da onde eu estava... Oh, que tal se eu falar um pouco da Teoria dos Jogos?

- NÃÃÃO!

- A teoria dos jogos é um ramo da matemática aplicada que estuda as interações estratégicas entre agentes. Nos jogos estratégicos, agentes escolhem...

- Pare, Yuudai! Eu lhe imploro! – eu lhe pedi, entre lágrimas.

Ajoelhado no chão, eu segurava os pés de Yuudai e abaixava a minha cabeça, em total submissão.
Mas ele simplesmente não tinha piedade, compaixão, nem amor no coração.
Afinal, era um ótimo economista.

- Renda-se, e eu paro. – ele me olhava de cima, autoritariamente.

- N-não posso, Yuudai... Preciso salvar Caina! – eu continuava chorando.

- Ora, salvar Caina? – ele pareceu surpreso.

- Sim, ela é a virgem que está pra ser sacrificada. – eu lhe expliquei.
- Ah, vai lá então. – ele sorriu, e me deu a mão para que eu levantasse. – Foi mal aí ter te atrasado, fica na paz.

- Fica na paz, cara. – dei um tapa nas costas dele, e assim nos despedimos.

- Hell wins! – a voz robótica anunciou, e todas as luzes se acenderam.

Na verdade, foi o sol que se acendeu.
Porque... era de dia e não fazia sentido nenhum ter ficado tudo escuro.

Em meio aos gritos da plateia, extasiada com minha força, meu heroísmo e minha inteligência, eu andei até aquela torre extremamente alta. E quando me aproximei dela, vi que tinha uma porta.

Ao abrir a porta, me deparei com uma escada que parecia não ter fim. Sem hesitar diante de tantos degraus, subi aquilo tudo correndo.

E após quarenta minutos de escada, cheguei ao quarto de Caina.
E lá estava a minha princesa...

- Oh, Hell! Você conseguiu! – ela exclamou contente, correndo em minha direção e me abraçando.

- Sim, meu amor! – eu a abraçava de volta. – Agora, vamos fazer sexo até o mundo acabar! – eu disse animado, com um sorriso tão grande que mal cabia em meu rosto.

- Sobre isso... – ela desviou o olhar, parecendo envergonhada. – Eu... Na verdade... Não sou virgem.

- Mas o que?! – exclamei, desapontado.

- Eu já dei pro Egito inteiro. – sorrindo meio sem graça, ela deu de ombros.

- Bem... – cocei a cabeça, me recompondo. – Fazer o que então, né. – voltei a sorrir, e a peguei no colo.

Levei Caina até a enorme cama, cheia de lençóis de seda e jóias preciosas que se espalhavam pela cama e por todo o aposento, ricamente decorado.

- Oh, Hell... Me faça sua... – ela pediu de olhos fechados, e eu me sentia tão feliz que quase voltei a chorar.

- Claro, minha querida!

- Hell? Hell...! – ela me chamou.

Ela me chamou com voz de homem.

Como assim?! O que estava acontecendo?!
Aquela voz não combinava com seu lindo corpinho de jovem moça!

- Hell! – ela me chamou novamente.
- O que foi...? – eu lhe perguntei, confuso.

- Acorda, Hell... – ela disse, e eu abri os olhos.

Eu estava deitada no sofá da sala, e Cain me chamava.

- Não vai querer almoçar? O Luke descongelou uma lasanha de quatro queijos, e o Louis daqui a pouco deve aparecer com o refrigerante. – ele sorriu simpaticamente enquanto falava, ao ver que eu finalmente havia acordado.

- AHHHH! – gritei, frustada. Peguei uma almofada, e com ela cobri meu rosto.

- O que foi? – ele me perguntava sem entender nada. – Se não quiser lasanha, acho que ainda tem carne daquele churrasco do outro dia...

- Não é isso, Cain! – tirei a almofada da frente do meu rosto e a joguei no chão, irritada. – Eu tava quase te comendo!

- O que?!

- Mais alguns minutos e eu teria o melhor sonho da minha vida!  

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