- Oi... Quer ajuda? – Louis perguntou
ao se aproximar de Luke, que estava descarregando a mala do carro.
- Não.
Luke não havia respondido de
forma agressiva. Na verdade, foi um “não” bem indiferente. E para Louis, isso
doía mais ainda.
Permaneceu parado onde estava,
olhando para baixo.
Não sabia o que fazer.
Enquanto tirava os engradados
de cerveja da mala, Luke notou que Louis ainda estava lá. Porque o garoto permaneceu no mesmo lugar mesmo depois de ter dito que não precisava de ajuda?
- Ei, você pode mesmo voltar
pra casa, eu já estou acabando aqui... – interrompeu a fala ao ver que Louis
estava chorando.
Largando no chão os sacos de
supermercado que segurava, foi até o sobrinho.
- Que foi, Louis? – sentia-se
preocupado.
- V-você... Me odeia, não é? –
perguntou com a voz falhando, sem conseguir olhar Luke nos olhos.
Luke respirou fundo, dobrando um
pouco os joelhos para ficar mais na altura de Louis.
- Louis, Louis... – ele disse
com um ar cansado, e balançou negativamente a cabeça.
- Tio...? – Louis levantou a
cabeça e o olhou, respirando com um pouco de dificuldade por causa do choro.
- Porra, Louis! – Luke lhe dá
um tapa na cabeça.
- AI! – Louis fecha os olhos
em reflexo, e põe as mãos na cabeça. – Porque?!
- Pra deixar de ser idiota! Ficou
burro, de repente? Da onde tirou que eu conseguiria te odiar?!
- E-eu... Mas... Você disse
que... – já havia parado de chorar, e no momento tentava a todo custo entender
o que Luke estava falando. A linha de pensamento do ruivo nem sempre era fácil
de acompanhar.
- Presta atenção. – segurou os
ombros de Louis, olhando-o nos olhos com determinação. – Até se você virasse um
babaca igual ao Sasuke e saísse borboleteando por aí atrás do Orochimaru, eu
seria o Naruto que não ia deixar de ser teu amigo e iria atrás de você!
Louis o ouvia atentamente, com
os olhos ainda avermelhados bem abertos, sem saber que reação manifestar.
- Luke... – disse com a voz
trêmula.
- Sim? – abriu um de seus
enormes sorrisos.
- Luke! – começou a chorar
novamente.
- Haja paciência, viu... –
Luke revirou os olhos, dando uns tapinhas de consolo no ombro de Louis.
- Me ajuda aqui, Sasuke. Pega
o engradado da direita.
- Sim! – correu até a grande
caixa de plástico lotada de garrafas de vidro, e a segurou dos lados, puxando-a
com toda sua força. – Luke, eu... Eu acho que não consigo levantar isso. –
concluiu, olhando suas mãos que ficaram vermelhas.
- Hahaha! Mas é um frango
mesmo... – já estava segurando um engradado, mas pegou o outro com a mão que
estava livre. – Leva os sacos então. – e começou a correr em direção à porta da
casa.
- Me espera!! – Louis gritou,
enquanto apanhava a maior quantidade de sacos que conseguia carregar.
- Me alcance! – Luke gritou em
resposta, rindo.
Ambos sabiam que Louis nunca
alcançaria Luke, mas para o ruivo a graça era justamente essa.
E Louis? Ele não se importava,
ria sem parar enquanto corria atrás do outro.
*
Hell e Merlot haviam terminado
de recolher os enfeites que estavam espalhados pelo chão. Fizeram tudo em
silêncio, preferindo ignorar a presença uma da outra.
- Hell, esse lado já tem
muitas bolas douradas, pendura mais atrás. – disse autoritária.
- Vou pendurar essas bolas nas
suas tubas uterinas se ficar me enchendo.
- Como se eu sentisse falta de
ter um útero. – responde impaciente.
- E de ter um cérebro, não
sente falta não?
- Já chega, Merlot! – jogou uma
das bolas douradas na cabeça da outra. – Você tá mais insuportável que o
normal! Por isso que ninguém te aguenta, nem seu namorado!
- É, você tem razão. – disse seriamente,
e abandonou a árvore ali, indo se jogar num dos sofás.
- Pirralha, você não vai
deixar o trabalho todo pra mim! – não obteve resposta.
Bufando de impaciência com as
pirraças de Merlot, Hell vai até o sofá. E ao vê-lo de frente se depara com
Merlot encolhida ali, o olhar vago fitava a televisão desligada. Nitidamente,
estava triste. Hell tentou se acalmar um pouco, pensando que talvez o melhor
modo de lidar com aborrecentes fosse tentar ouví-los de vez em quando.
- Ex-namorado. – Merlot disse,
antes que Hell abrisse a boca para lhe perguntar o que estava acontecendo.
- Quer falar sobre isso? –
repetia a frase que via as boas mães perguntando às suas filhas, na televisão. Sentou
no sofá, ao lado de Merlot.
- É que você tem razão...
Sempre teve! Eu sou insuportável, sim! E realmente, nem ele me aguentava
mais...
- Ele disse isso?
- Não, ele é gentil demais pra
ser sincero assim... – enquanto falava, chorava discretamente. – Mas eu sei que
foi isso. Eu... Acho que sou meio controladora. – mudando de posição, ficou
sentada enquanto abraçava os joelhos.
Durante o silêncio que seguiu
o desabafo de Merlot, Hell pensava no que deveria falar. Ela nunca antes
precisou consolar ninguém (além de Cain, mas aí as situações já eram muito
diferentes).
- Então... O que acha de ir ao
shopping comigo depois do Natal e assistirmos um filme? Vamos ver várias bruxas
tendo as cabeças arrancadas e sangue em 3D espirrando na gente.
- João e Maria, caçadores de
bruxas? – perguntou baixinho, com a voz ainda meio desanimada.
- Sim.
- Tudo bem... Vamos.
*
Quando Nana entrou na sala,
ficou contente ao ver Hell e Merlot terminando a decoração, conversando
normalmente uma com a outra. Até mesmo sorriam. Percebeu então que seu plano
para que as duas fizessem as pazes havia dado certo.
- A árvore ficou linda, meninas!
- Sim, uma obra prima. – Hell
disse ao colocar o último enfeite.
- E se o Luke não, gostar,
problema dele... Deu trabalho. – Merlot deu de ombros.
Nana se perguntava se havia
dado tudo certo entre Luke e Louis também.
Mas não demorou nada até que a
resposta entrasse pela porta, de forma abrupta e barulhenta.
- E não me alcançou mesmo!
Hahaha! – Luke corria para dentro da sala, sem prestar atenção no caminho.
- LUKE, CUIDADO! – Hell e
Merlot gritaram juntas, quando viram que ele corria sem olhar para frente, em
direção a árvore recém remontada.
As três mulheres na sala
respiraram aliviadas quando Luke parou, a alguns centímetros da árvore.
- Cuidado com o que, gente? –
Luke perguntou, virando-se de frente para elas.
E ao virar o corpo, um dos
engradados que carregava bateu na árvore, e a jogou no chão.
- Filho da puta! – Hell gritou
na hora.
- Luke!! Eu não acredito! –
Merlot levou as mãos ao rosto, olhando desolada para todos os enfeiteites que
novamente se espalhavam pelo chão.
Nana apoiou a cabeça na mão,
fechando os olhos a fim manter a calma diante da sessão de gritos que
provavelmente viria a seguir.
- Foi mal, eu não vi! – Luke tentava
se desculpar, protegendo-se dos vários enfeites que Hell e Merlot atiravam em
sua direção. Usava os próprios engradados como escudo.
- Cheguei... AI! – Louis havia
acabado de entrar na sala, correndo também. Mas pisou em uma das bolas da
árvore e escorregou. Bateu com o queixo na quina da mesa antes de cair no chão.
- Louis! – Nana correu até o
sobrinho, ajudando-o.
Agora, além dos enfeites,
também haviam várias compras do supermercado espalhadas pela sala. Além de
sacolas rasgadas e do sangue de Louis, que sujava o chão de madeira.
- O que está acontecendo? –
Kratos perguntou ao descer as escadas que davam na sala. – A gente tá ouvindo
um monte de gritos, barulho de coisa quebrando...
Atrás dele vinha Yuudai, que
se assustou ao ver o filho sentado no chão, chorando e com sangue escorrendo
pelo queixo.
- Nana, o que houve com o
Louis? – correu até os dois.
- Quero saber é o que houve
com a sala! – Kratos perguntou com os olhos arregalados, ao olhar ao redor.
- O estúpido do teu filho! –
Hell esbravejou. – A gente tinha acabado de arrumar a ávore que a Marie tinha
derrubado, aí vem o Luke derruba de novo!
- Aí veio uma bolinha dourada
e derrubou o Louis. – Merlot acabou rindo ao terminar a frase.
- Não tem graça, Merlot! –
Marie disse, entrando em cena. Cain estava ao seu lado, carregando alguns
pedaços do bolo que estavam comendo na cozinha.
Enquanto Cain ia perguntar à
namorada o que tinha acontecido, Marie sentava no chão ao lado de Louis. Ela
lhe mostrava os joelhos enfaixados, tentando consola-lo ao afirmar que não doíam
mais.
E foi desse modo desorganizado
e conflituoso que o resto do dia passou. Pelo menos já não haviam mais
moradores brigados uns com os outros, e no final todos acabaram montando a
árvore juntos.
À noite, começaram a arrumar a
ceia na mesa.
Já era quase dia 25.

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