terça-feira, 29 de janeiro de 2013

50. Natal - Parte 2


- Oi... Quer ajuda? – Louis perguntou ao se aproximar de Luke, que estava descarregando a mala do carro.

- Não.

Luke não havia respondido de forma agressiva. Na verdade, foi um “não” bem indiferente. E para Louis, isso doía mais ainda.
Permaneceu parado onde estava, olhando para baixo.
Não sabia o que fazer.

Enquanto tirava os engradados de cerveja da mala, Luke notou que Louis ainda estava lá. Porque o garoto permaneceu no mesmo lugar mesmo depois de ter dito que não precisava de ajuda?

- Ei, você pode mesmo voltar pra casa, eu já estou acabando aqui... – interrompeu a fala ao ver que Louis estava chorando.

Largando no chão os sacos de supermercado que segurava, foi até o sobrinho.

- Que foi, Louis? – sentia-se preocupado.

- V-você... Me odeia, não é? – perguntou com a voz falhando, sem conseguir olhar Luke nos olhos.

Luke respirou fundo, dobrando um pouco os joelhos para ficar mais na altura de Louis.

- Louis, Louis... – ele disse com um ar cansado, e balançou negativamente a cabeça.

- Tio...? – Louis levantou a cabeça e o olhou, respirando com um pouco de dificuldade por causa do choro.

- Porra, Louis! – Luke lhe dá um tapa na cabeça.

- AI! – Louis fecha os olhos em reflexo, e põe as mãos na cabeça. – Porque?!

- Pra deixar de ser idiota! Ficou burro, de repente? Da onde tirou que eu conseguiria te odiar?!

- E-eu... Mas... Você disse que... – já havia parado de chorar, e no momento tentava a todo custo entender o que Luke estava falando. A linha de pensamento do ruivo nem sempre era fácil de acompanhar.

- Presta atenção. – segurou os ombros de Louis, olhando-o nos olhos com determinação. – Até se você virasse um babaca igual ao Sasuke e saísse borboleteando por aí atrás do Orochimaru, eu seria o Naruto que não ia deixar de ser teu amigo e iria atrás de você!

Louis o ouvia atentamente, com os olhos ainda avermelhados bem abertos, sem saber que reação manifestar.

- Luke... – disse com a voz trêmula.

- Sim? – abriu um de seus enormes sorrisos.

- Luke! – começou a chorar novamente.

- Haja paciência, viu... – Luke revirou os olhos, dando uns tapinhas de consolo no ombro de Louis.

- Me ajuda aqui, Sasuke. Pega o engradado da direita.

- Sim! – correu até a grande caixa de plástico lotada de garrafas de vidro, e a segurou dos lados, puxando-a com toda sua força. – Luke, eu... Eu acho que não consigo levantar isso. – concluiu, olhando suas mãos que ficaram vermelhas.

- Hahaha! Mas é um frango mesmo... – já estava segurando um engradado, mas pegou o outro com a mão que estava livre. – Leva os sacos então. – e começou a correr em direção à porta da casa.

- Me espera!! – Louis gritou, enquanto apanhava a maior quantidade de sacos que conseguia carregar.

- Me alcance! – Luke gritou em resposta, rindo.

Ambos sabiam que Louis nunca alcançaria Luke, mas para o ruivo a graça era justamente essa.
E Louis? Ele não se importava, ria sem parar enquanto corria atrás do outro.


*

Hell e Merlot haviam terminado de recolher os enfeites que estavam espalhados pelo chão. Fizeram tudo em silêncio, preferindo ignorar a presença uma da outra.

- Hell, esse lado já tem muitas bolas douradas, pendura mais atrás. – disse autoritária.

- Vou pendurar essas bolas nas suas tubas uterinas se ficar me enchendo.

- Pelo menos eu tenho tubas uterinas.

- Como se eu sentisse falta de ter um útero.  – responde impaciente.

- E de ter um cérebro, não sente falta não?

- Já chega, Merlot! – jogou uma das bolas douradas na cabeça da outra. – Você tá mais insuportável que o normal! Por isso que ninguém te aguenta, nem seu namorado!

- É, você tem razão. – disse seriamente, e abandonou a árvore ali, indo se jogar num dos sofás.

- Pirralha, você não vai deixar o trabalho todo pra mim! – não obteve resposta.

Bufando de impaciência com as pirraças de Merlot, Hell vai até o sofá. E ao vê-lo de frente se depara com Merlot encolhida ali, o olhar vago fitava a televisão desligada. Nitidamente, estava triste. Hell tentou se acalmar um pouco, pensando que talvez o melhor modo de lidar com aborrecentes fosse tentar ouví-los de vez em quando.

- Ex-namorado. – Merlot disse, antes que Hell abrisse a boca para lhe perguntar o que estava acontecendo.

- Quer falar sobre isso? – repetia a frase que via as boas mães perguntando às suas filhas, na televisão. Sentou no sofá, ao lado de Merlot.

- É que você tem razão... Sempre teve! Eu sou insuportável, sim! E realmente, nem ele me aguentava mais...

- Ele disse isso?

- Não, ele é gentil demais pra ser sincero assim... – enquanto falava, chorava discretamente. – Mas eu sei que foi isso. Eu... Acho que sou meio controladora. – mudando de posição, ficou sentada enquanto abraçava os joelhos.

Durante o silêncio que seguiu o desabafo de Merlot, Hell pensava no que deveria falar. Ela nunca antes precisou consolar ninguém (além de Cain, mas aí as situações já eram muito diferentes).

- Então... O que acha de ir ao shopping comigo depois do Natal e assistirmos um filme? Vamos ver várias bruxas tendo as cabeças arrancadas e sangue em 3D espirrando na gente.

- João e Maria, caçadores de bruxas? – perguntou baixinho, com a voz ainda meio desanimada.

- Sim.

- Tudo bem... Vamos.

*

Quando Nana entrou na sala, ficou contente ao ver Hell e Merlot terminando a decoração, conversando normalmente uma com a outra. Até mesmo sorriam. Percebeu então que seu plano para que as duas fizessem as pazes havia dado certo.

- A árvore ficou linda, meninas!

- Sim, uma obra prima. – Hell disse ao colocar o último enfeite.

- E se o Luke não, gostar, problema dele... Deu trabalho. – Merlot deu de ombros.

Nana se perguntava se havia dado tudo certo entre Luke e Louis também.
Mas não demorou nada até que a resposta entrasse pela porta, de forma abrupta e barulhenta.

- E não me alcançou mesmo! Hahaha! – Luke corria para dentro da sala, sem prestar atenção no caminho.

- LUKE, CUIDADO! – Hell e Merlot gritaram juntas, quando viram que ele corria sem olhar para frente, em direção a árvore recém remontada.

As três mulheres na sala respiraram aliviadas quando Luke parou, a alguns centímetros da árvore.

- Cuidado com o que, gente? – Luke perguntou, virando-se de frente para elas.

E ao virar o corpo, um dos engradados que carregava bateu na árvore, e a jogou no chão.

- Filho da puta! – Hell gritou na hora.

- Luke!! Eu não acredito! – Merlot levou as mãos ao rosto, olhando desolada para todos os enfeiteites que novamente se espalhavam pelo chão.

Nana apoiou a cabeça na mão, fechando os olhos a fim manter a calma diante da sessão de gritos que provavelmente viria a seguir.

- Foi mal, eu não vi! – Luke tentava se desculpar, protegendo-se dos vários enfeites que Hell e Merlot atiravam em sua direção. Usava os próprios engradados como escudo.

- Cheguei... AI! – Louis havia acabado de entrar na sala, correndo também. Mas pisou em uma das bolas da árvore e escorregou. Bateu com o queixo na quina da mesa antes de cair no chão.

- Louis! – Nana correu até o sobrinho, ajudando-o.

Agora, além dos enfeites, também haviam várias compras do supermercado espalhadas pela sala. Além de sacolas rasgadas e do sangue de Louis, que sujava o chão de madeira.

- O que está acontecendo? – Kratos perguntou ao descer as escadas que davam na sala. – A gente tá ouvindo um monte de gritos, barulho de coisa quebrando...

Atrás dele vinha Yuudai, que se assustou ao ver o filho sentado no chão, chorando e com sangue escorrendo pelo queixo.

- Nana, o que houve com o Louis? – correu até os dois.

- Quero saber é o que houve com a sala! – Kratos perguntou com os olhos arregalados, ao olhar ao redor.

- O estúpido do teu filho! – Hell esbravejou. – A gente tinha acabado de arrumar a ávore que a Marie tinha derrubado, aí vem o Luke derruba de novo!

- Aí veio uma bolinha dourada e derrubou o Louis. – Merlot acabou rindo ao terminar a frase.

- Não tem graça, Merlot! – Marie disse, entrando em cena. Cain estava ao seu lado, carregando alguns pedaços do bolo que estavam comendo na cozinha.

Enquanto Cain ia perguntar à namorada o que tinha acontecido, Marie sentava no chão ao lado de Louis. Ela lhe mostrava os joelhos enfaixados, tentando consola-lo ao afirmar que não doíam mais.

E foi desse modo desorganizado e conflituoso que o resto do dia passou. Pelo menos já não haviam mais moradores brigados uns com os outros, e no final todos acabaram montando a árvore juntos.

À noite, começaram a arrumar a ceia na mesa.
Já era quase dia 25.

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