Não era tão tarde, embora
parecesse. O dia nublado e frio é que havia escurecido rápido demais. E
enquanto a chuva apertava lá fora, dentro do apartamento uma outra tempestade
se formava.
Estava tudo bem até poucos minutos atrás, quando Kratos e Yuudai se beijavam no sofá. Até que Yuudai recomeçou suas insistentes e cada vez mais freqüentes investidas.
- Para...! - Kratos disse por fim, irritando-se. Empurrou Yuudai, retirando as mãos do outro de si. Esticou a camisa, cobrindo o pequeno pedaço de sua barriga que Yuudai havia conseguido revelar. - Mas que merda, Yuudai!
Ele não era o único que havia se irritado.
Yuudai sentia a própria paciência chegando ao limite.
- Porra, Kratos! Até quando vai ficar de palhaçada? - disse de uma vez. Tentou se controlar ao respirar fundo e passar a mão no cabelo.
Kratos o olhou descrente.
Yuudai pensava que Kratos gostava dessa situação? Não pensava que ele também gostaria de sentir confortável e simplesmente tirar a roupa?
- Eu já não falei sobre isso? - diferente de Yuudai, não fazia muita questão de manter o controle. Sua voz soou quase como um rosnado. - Eu que deveria estar irritado, você não me leva a sério!
- Quem parece não estar levando as coisas a sério é você. - lhe lançou um de seus olhares autoritários, que Kratos detestava. - Você faz ideia da minha frustração? Claro que não, você não sabe há quanto tempo estou sem...
- Foda-se! - o interrompeu, imaginado onde aquela conversa daria. - Se o problema é esse, abre a merda da agenda do seu celular e liga pra qualquer uma delas! Você só conhece esses projetos de prostitutas mesmo, nenhuma delas te faria esperar muito pelo que você quer.
Yuudai se surpreendia com o que ouvia, e estava a cada momento mais irritado com a falta de compreensão de Kratos. Tão irritado que tornava-se cego diante de sua própria incompreensão.
- Talvez eu devesse fazer isso mesmo, não é? - recebeu imediatamente um olhar raivoso do outro. Se fosse qualquer outra pessoa no lugar de Yuudai, teria sentido medo. - Você não faz ideia de quantos convites ando recusando.
- Faço sim, seu filho da puta. Sou eu que atendo o telefone quando você não tá em casa, e digo pra elas ligarem depois porque você tá ocupado. - o ódio que sentia dessa situação era explicito em sua voz.
Yuudai sorriu, e Kratos sentiu vontade de lhe dar um soco.
- É, pelo menos elas não ficam de frescura que nem você.
- Frescura?! - repetiu, incrédulo no que ouvia.
- Porra, claro que é frescura! - aumentou o tom de voz, esquecendo da pose e deixando por fim que sua frustração e impaciência falassem mais alto. - Duvido que você tenha ficado nessa enrolação toda quando era com alguma mulher!
- Do que... Você está falando? - sua confusão era sincera.
- ...Então não entendo porque age assim quando tá comigo! - continuou. - Parece mais um garotinho virgem.
Alguns segundos se passaram em silêncio, onde Kratos se sentiu verdadeiramente desconfortável. Não sabia bem o que sentia, era algo como uma mistura de inseguranças, vergonha, e decepção.
Só sentia vontade de sair dali e não olhar mais para Yuudai.
- E talvez eu seja só isso mesmo. - disse por fim.
Andando rapidamente, foi até a janela da sala e abriu toda.
- O que você tá fazendo?! - Yuudai perguntou ao ver que a chuva havia se transformado de fato num temporal, e pela janela as muitas gotas que entravam molhavam tudo que alcançavam no interior do apartamento.
- Eu tô indo embora, Yuudai! Faz a merda que você quiser... - e pulou para fora.
Por um momento Yuudai esqueceu que Kratos não era humano, e correu apavorado até a janela, pois morava no sétimo andar. Mas viu Kratos andando na calçada lá embaixo, atravessando a rua e se afastando rapidamente do prédio, logo desaparecendo em meio a chuva e a escuridão.
A primeira reação de Yuudai foi ficar com mais raiva ainda, considerando aquilo tudo uma pirraça ridícula. Sentou no sofá e ficou pensando sem parar, em meio ao silencio do apartamento, que só era quebrado pelo som da chuva que batia no vidro da janela agora novamente fechada.
"Daqui a pouco ele volta pra cá, encharcado. Vai ser ridículo ele aparecer na portaria assim, mas o problema é dele... Não vou deixar essa janela aberta, molhando a sala toda, enquanto ele brinca de ser teimoso..."
Sem sentir, Yuudai acabou por dormir ali mesmo no sofá.
Quando acordou já era manhã, e a primeira coisa que fez foi procurar por Kratos na casa toda, mas não havia sinal dele.
Sua preocupação foi aumentando. E mais que isso, sentia-se arrependido. As horas que passou sozinho na noite anterior, antes de pegar no sono, serviram para que começasse a enxergar as coisas de outra forma.
"E talvez eu seja só isso mesmo."
Foi a frase que fez com que parasse para pensar.
Não havia considerado antes a possibilidade de Kratos ser virgem, mas agora percebia que fazia sentido. Ora, não fazia ainda nem um ano desde que Kratos havia assumido sua forma humana.
Começava a perceber também que talvez estivesse agindo de forma muito insensível com relação as cicatrizes. Tinha mais ou menos uma ideia de como elas eram, pois com o tempo Kratos havia começado a se sentir um pouco mais confortável na presença de Yuudai, e por isso se deixou ser visto de camiseta sem mangas algumas vezes. O japonês pode perceber então que eram cicatrizes diferentes de qualquer uma que já tivesse visto, devido principalmente a cor avermelhada que contrastava com a pele. Eram também mais irregulares que o normal. Essas diferenças se deviam ao fato de que o fogo que as causara era diferente, e sequer existia na Terra. Logo, seria lógico pensar que tal fogo provocasse marcas diferentes também.
As outras cicatrizes que já havia visto espalhadas pelos braços de Kratos haviam sido provocadas por suturas muito rústicas. Tinha vontade de perguntar a origem de varias delas, mas sempre segurou a curiosidade.
A questão é que talvez Kratos tivesse motivos para hesitar tanto em mostrar o corpo todo. E talvez Yuudai devesse ter respeitado mais esses motivos.
Estava tudo bem até poucos minutos atrás, quando Kratos e Yuudai se beijavam no sofá. Até que Yuudai recomeçou suas insistentes e cada vez mais freqüentes investidas.
- Para...! - Kratos disse por fim, irritando-se. Empurrou Yuudai, retirando as mãos do outro de si. Esticou a camisa, cobrindo o pequeno pedaço de sua barriga que Yuudai havia conseguido revelar. - Mas que merda, Yuudai!
Ele não era o único que havia se irritado.
Yuudai sentia a própria paciência chegando ao limite.
- Porra, Kratos! Até quando vai ficar de palhaçada? - disse de uma vez. Tentou se controlar ao respirar fundo e passar a mão no cabelo.
Kratos o olhou descrente.
Yuudai pensava que Kratos gostava dessa situação? Não pensava que ele também gostaria de sentir confortável e simplesmente tirar a roupa?
- Eu já não falei sobre isso? - diferente de Yuudai, não fazia muita questão de manter o controle. Sua voz soou quase como um rosnado. - Eu que deveria estar irritado, você não me leva a sério!
- Quem parece não estar levando as coisas a sério é você. - lhe lançou um de seus olhares autoritários, que Kratos detestava. - Você faz ideia da minha frustração? Claro que não, você não sabe há quanto tempo estou sem...
- Foda-se! - o interrompeu, imaginado onde aquela conversa daria. - Se o problema é esse, abre a merda da agenda do seu celular e liga pra qualquer uma delas! Você só conhece esses projetos de prostitutas mesmo, nenhuma delas te faria esperar muito pelo que você quer.
Yuudai se surpreendia com o que ouvia, e estava a cada momento mais irritado com a falta de compreensão de Kratos. Tão irritado que tornava-se cego diante de sua própria incompreensão.
- Talvez eu devesse fazer isso mesmo, não é? - recebeu imediatamente um olhar raivoso do outro. Se fosse qualquer outra pessoa no lugar de Yuudai, teria sentido medo. - Você não faz ideia de quantos convites ando recusando.
- Faço sim, seu filho da puta. Sou eu que atendo o telefone quando você não tá em casa, e digo pra elas ligarem depois porque você tá ocupado. - o ódio que sentia dessa situação era explicito em sua voz.
Yuudai sorriu, e Kratos sentiu vontade de lhe dar um soco.
- É, pelo menos elas não ficam de frescura que nem você.
- Frescura?! - repetiu, incrédulo no que ouvia.
- Porra, claro que é frescura! - aumentou o tom de voz, esquecendo da pose e deixando por fim que sua frustração e impaciência falassem mais alto. - Duvido que você tenha ficado nessa enrolação toda quando era com alguma mulher!
- Do que... Você está falando? - sua confusão era sincera.
- ...Então não entendo porque age assim quando tá comigo! - continuou. - Parece mais um garotinho virgem.
Alguns segundos se passaram em silêncio, onde Kratos se sentiu verdadeiramente desconfortável. Não sabia bem o que sentia, era algo como uma mistura de inseguranças, vergonha, e decepção.
Só sentia vontade de sair dali e não olhar mais para Yuudai.
- E talvez eu seja só isso mesmo. - disse por fim.
Andando rapidamente, foi até a janela da sala e abriu toda.
- O que você tá fazendo?! - Yuudai perguntou ao ver que a chuva havia se transformado de fato num temporal, e pela janela as muitas gotas que entravam molhavam tudo que alcançavam no interior do apartamento.
- Eu tô indo embora, Yuudai! Faz a merda que você quiser... - e pulou para fora.
Por um momento Yuudai esqueceu que Kratos não era humano, e correu apavorado até a janela, pois morava no sétimo andar. Mas viu Kratos andando na calçada lá embaixo, atravessando a rua e se afastando rapidamente do prédio, logo desaparecendo em meio a chuva e a escuridão.
A primeira reação de Yuudai foi ficar com mais raiva ainda, considerando aquilo tudo uma pirraça ridícula. Sentou no sofá e ficou pensando sem parar, em meio ao silencio do apartamento, que só era quebrado pelo som da chuva que batia no vidro da janela agora novamente fechada.
"Daqui a pouco ele volta pra cá, encharcado. Vai ser ridículo ele aparecer na portaria assim, mas o problema é dele... Não vou deixar essa janela aberta, molhando a sala toda, enquanto ele brinca de ser teimoso..."
Sem sentir, Yuudai acabou por dormir ali mesmo no sofá.
Quando acordou já era manhã, e a primeira coisa que fez foi procurar por Kratos na casa toda, mas não havia sinal dele.
Sua preocupação foi aumentando. E mais que isso, sentia-se arrependido. As horas que passou sozinho na noite anterior, antes de pegar no sono, serviram para que começasse a enxergar as coisas de outra forma.
"E talvez eu seja só isso mesmo."
Foi a frase que fez com que parasse para pensar.
Não havia considerado antes a possibilidade de Kratos ser virgem, mas agora percebia que fazia sentido. Ora, não fazia ainda nem um ano desde que Kratos havia assumido sua forma humana.
Começava a perceber também que talvez estivesse agindo de forma muito insensível com relação as cicatrizes. Tinha mais ou menos uma ideia de como elas eram, pois com o tempo Kratos havia começado a se sentir um pouco mais confortável na presença de Yuudai, e por isso se deixou ser visto de camiseta sem mangas algumas vezes. O japonês pode perceber então que eram cicatrizes diferentes de qualquer uma que já tivesse visto, devido principalmente a cor avermelhada que contrastava com a pele. Eram também mais irregulares que o normal. Essas diferenças se deviam ao fato de que o fogo que as causara era diferente, e sequer existia na Terra. Logo, seria lógico pensar que tal fogo provocasse marcas diferentes também.
As outras cicatrizes que já havia visto espalhadas pelos braços de Kratos haviam sido provocadas por suturas muito rústicas. Tinha vontade de perguntar a origem de varias delas, mas sempre segurou a curiosidade.
A questão é que talvez Kratos tivesse motivos para hesitar tanto em mostrar o corpo todo. E talvez Yuudai devesse ter respeitado mais esses motivos.