quarta-feira, 14 de novembro de 2012

08. Yin-Yang, e seu Protetor


- Então a Hell está agora na sessão? – Nana perguntou à Cain, puxando assunto.

- Sim... – respondeu parecendo desanimado.

- Você sabe que os caras vão fazer ela tirar umas fotos nua, né? Ouvi falar que sempre fazem esse tipo de coisa com as novatas. – fingiu um tom sério.

- Para, Luke! – Nana bateu de leve no braço do namorado, que apenas sorriu.

Cain suspirou, coçando a cabeça.

Apesar do incômodo de Cain com a situação de Hell, ele não era quem parecia estar mal, naquele trio que conversava em meio a almofadas.
Luke estava mais sério do que de costume, e não falou mais nada após a tentativa de mau gosto em deixar o amigo ainda mais preocupado com a sessão fotográfica.

Cain sentia que o amigo estava estranho, e Nana já fazia uma ideia do que passava pela cabeça de Luke.

- Pode falar com a gente. – ela disse subitamente, sorrindo.

- Falar o que...? – Luke respondeu, com uma expressão desinteressada.

- Vai, conta pra gente o que aflige seu pequeno coração! - Cain riu.

- Nada, gente... Relaxa. – sua tentativa de sorriso falhou, então apenas desviou o olhar.
Mas fazer os amigos desistirem não seria fácil assim.

- Cain, vamos derrubá-lo! – Nana ordenou, e Luke foi surpreendido por um rápido ataque em conjunto, onde Nana puxou seus ombros para trás enquanto Cain o desequilibrava, puxando as pernas.

- Ei, querem me matar? – perguntou confuso, mas pareceu estar com o humor um pouco melhor.

Deitado com a cabeça no colo da namorada, desviou novamente dos olhares de ambos.
Fez menção de levantar, mas Cain o impediu ao segurar suas pernas.

- Vocês devem fazer uma ideia de que sou bem mais forte e vocês não conseguiriam me segurar aqui, né? – perguntou sem alterar a voz, com o olhar distante.

- Sim. E por isso mesmo sei que você quer colo. – Nana riu timidamente. – Caso contrário, não teria se deixado derrubar, e não estaria aqui deitado até agora...

Ela estava certa. E por isso, Luke virou a cabeça para o lado, ainda parecendo tentar fugir dos dois, ao mesmo tempo em que não queria realmente se afastar.

- Pensando no Kratos? – Cain perguntou, a voz mais suave que o normal.

- Como não pensar...? – disse por fim.

Doía em Nana vê-lo assim. O simples olhar triste de Luke a abalava muito mais do que ela deixava transparecer.

- Meu amor... Você sabe, é como a Luna disse... Existem boas chances de que ele esteja vivo, talvez até mesmo tentando nos encontrar.

- Assim como tem chance dele... Não estar. – parecia que o otimismo de Luke finalmente começava a abandoná-lo, após tantos meses sem notícias do pai.

- Sim, mas em qual das chances você prefere acreditar? – Cain tentava reacender a esperança do melhor amigo.

- A questão não é mais em que eu prefiro acreditar... – a angústia era visível em seu rosto. – O que importa mesmo é o que aconteceu, seja lá o que for...

Nana não gostava muito de mexer com o estado de espírito das pessoas, pois era algo que ela considerava de grande responsabilidade. Além disso, a deixava muito cansada no final.
Mas este era um caso especial.
Ela sabia que Luke tinha uma leve tendência à depressão, e havia decidido fazer o possível para que ele não chegasse a esse nível.

Começou a mover a mão que estava apoiada no peito de Luke, em suaves movimentos circulares. Tão suaves que o rapaz demorou a percebê-los.
E quando os notou, já sentia as pálpebras pesadas...

Cain logo percebeu o que acontecia. Era a primeira vez que via Nana influenciando o astral de uma pessoa de forma direta, embora soubesse que ela era perfeitamente capaz disso.

A fada movimentava os lábios, falando coisas que não eram pronunciadas alto o suficiente para serem ouvidas.
O peito de Luke era acariciado pela mão que lançava, através de sua pele, fluídos invisíveis que o deixariam com a mente mais tranquila, e que o ajudariam a manter-se afastado do abismo que era a ausência de expectativas positivas.

Sentia-se sonolento. Focou-se nos olhos de Nana, que ao percebê-lo, olhou de volta.
As íris normalmente escuras da garota assumiam um tom violeta, que Luke sabia significar que ela estava realizando algum tipo de encantamento.
Ligou os fatos, e soube que estava sendo influenciado.

Não ficou chateado por ela estar fazendo isso sem avisá-lo, muito pelo contrário.
Agradecia Nana mentalmente por ela estar o ajudando.

Apesar de a visão estar ficando embaçada, Luke lutou em não desviar do olhar de Nana até o fim.
Nos orbes lilases, encontrava conforto e esperança.

“Eu te amo, Nana...”, Luke pensou. Não conseguia falar, sentia-se mergulhando numa profunda tranquilidade, sabia que estava prestes a adormecer...

- Eu também te amo, Luke. – ele a ouviu falar, antes de dormir de vez.

Nana parou de movimentar a mão ao ver que Luke já estava inconsciente.
Suspirou pesadamente. Parecia muito cansada, mas satisfeita.

- Você pode ler a mente dele? – Cain perguntou curioso, pois ouviu Nana respondendo algo que Luke não dissera. Ou pelo menos, que ele não havia tido capacidade de ouvir.

- Certas coisas não precisam ser ditas. – ela disse calmamente. – A gente só... Sente e sabe. – Nana sorriu, e se deitou ali mesmo.

A fada pareceu ter caído no sono quase que imediatamente ao se deitar.

Ainda que não tivessem se posicionado com tal intenção, Nana e Luke pareciam encaixar-se perfeitamente. Não estavam abraçados, mas dormiam lado a lado, e qualquer um que visse a cena perceberia o quanto pareciam estar em sintonia.

Completavam-se, do jeito que estava previsto desde antes de nascerem.
Do jeito que deveria ser, como yin e yang.

Enquanto cobria o casal com uma colcha, a fim de protegê-los da noite fria, o sorriso não abandonou o rosto de Cain nem por um segundo.
Um dos maiores orgulhos do egípcio era saber que tinha ajudado, que tinha feito sua parte na grande rede de acontecimentos que cercava aquele casal.

E, mais uma vez, Cain jurou mentalmente que iria sempre protegê-los.
Jurou em nome da promessa feita há dois mil anos para Kratos, em nome da amizade, e em nome do amor sincero que sentia por aquelas crianças.

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