sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

61. Dia de Mudança


- Estou com vergonha de voltar pra casa da Nana. Sério. – Yuudai confessou quando ficou a sós com Kratos pela primeira vez desde que foi transformado.

Era a noite do dia seguinte ao de sua transformação. Kratos temia que houvessem outros dragões atrás dele (e de toda a família), portanto a opção mais segura seria que ele e Yuudai não continuassem a morar no apartamento e se mudassem o mais rápido possível para o bosque.

- Vergonha porque? – perguntou, enquanto ajudava Yuudai a esvaziar as gavetas e armários. Jogava em cima da cama de casal todas as roupas que encontrava.

- Eu quebrei um monte de coisa! Não ficamos lá nem 24 horas, e quebrei sem querer duas portas, um prato, e alguns copos... Estou destruindo tudo que toco! – Yuudai falava com uma expressão desesperada, o que na visão de Kratos tornava a situação cômica.

- Vou te dar a melhor dica possível pra isso... Imagine que tudo ao seu redor é feito de um cristal fino. Cada copo, cada maçaneta. Tudo de cristal. Aí você vai se acostumando a ser mais delicado com as coisas, e com o tempo se acostuma com a sua força. – sorriu. – Você não faz ideia do prejuízo que eu causei à eles nas minhas primeiras semanas na casa da Nana... Eu quebrava muito mais coisas que você. Fiquei meio longe das crianças por um bom tempo, com medo de machucá-las.

Continuaram a jogar as roupas na cama, e logo as gavetas, prateleiras e cabides estavam vazios.

- Pega as malas que a gente deixou na sala, vamos guardar logo... – foi interrompido por Yuudai, que o derrubou na cama. – O que?!

- Consegui! – Yuudai ria. – Não acredito!

Rindo também ao ver a felicidade de Yuudai pelo simples fato de agora conseguir derrubá-lo, Kratos resolveu aproveitar para provocá-lo.

- Eu estava distraído... Assim é fácil demais.

- Antes você parecia uma muralha, se me jogasse em cima de você eu acabaria me machucando. Mas agora as coisas vão ser mais divertidas, não? – sorriu provocativo. Conseguiu imobilizar Kratos ao segurar seus pulsos com força e imprensá-lo contra a cama com o próprio peso.

Kratos levantou as sobrancelhas e lhe lançou um olhar descrente, retribuindo o sorriso.

- Sinto informar que ainda sou mais forte. E você está amassando todas as roupas...

- Kratos! Você sabe do que estou falando, não sabe? – empolgado, voltou a rir. – Essa... Essa energia toda, essa força! É como se fosse adrenalina, mas... É MAIS que adrenalina!

- Bem vindo ao mundo dos dragões, eu diria... – Kratos também riu. – É pra gastar essa energia toda que eu e Luke treinamos tanto. Experimenta ficar no tédio, sem fazer nada... Quando você sentir o que é energia acumulada, vai me pedir perdão por ter reclamado tanto das vezes em que fiquei mal humorado e agressivo.

- Vou ter que começar a treinar também, então? – a ideia o animava.

- Provavelmente, mas... Sabe qual o outro modo de se gastar energia?

- Qual? – essa foi uma das poucas vezes em toda a sua vida que Yuudai fez uma pergunta ingênua, por não ter entendido o sentido por trás das palavras.

Agilmente invertendo as posições, Kratos ficou por cima de Yuudai e segurou suas mãos.

- Ah, sim... – Yuudai disse.

Com algum esforço, conseguiu soltar uma das mãos e a usou para puxar a cabeça de Kratos para mais perto da sua, de uma forma um tanto bruta.

*

- Onde eles estão?! – Nana exclamou, levantando da cama e olhando impacientemente pela janela do quarto, uma das que dava vista para a frente da casa.

- Sei lá, Nana! Ainda devem estar pegando coisas no apartamento... Pra que o estresse? Aquela sua premonição já aconteceu, você devia relaxar agora... – Luke mudou o canal da televisão, deitado na cama.

- Desculpa se não consigo ficar como você, simplesmente deitado na cama assistindo televisão pelado e comendo fandangos, enquanto meu irmão que quase foi morto está começando a demorar a voltar pra casa... – suspirou.

- Ei, não reclame... Estou pelado por sua causa. – jogou um dos salgadinhos em Nana, acertando o cabelo rosa. – E você também tá.

- Não estou reclamando... – ela disse com um sorriso, tirando o salgadinho do cabelo e o comendo em seguida. – Mas sei lá, fico preocupada.

- Ele agora é um dragão também... Relaxa.

- Pode até ser, mas ainda não sabe usar a própria força. – voltou à cama e sentou ao lado de Luke, que a puxou para um abraço de lado.

- A gente vai treinar ele. Vamos descobrir qual o estilo do Yuu, e fazer ele ficar foda. Só acho bom que o negócio dele não seja manipular fogo também...

- Já está com ciúmes do seu querido fogo? Medo do Yuudai ser um controlador de fogo melhor que você? – ela riu, provocando-o.

- Claro que não, porque isso seria impossível. – levantando uma das mãos em frente aos dois, Luke estalou os dedos e criou ali uma pequena chama que parecia sair de seu dedo indicador.

- Que perigo, hein? – ela zombou.

Luke abaixou a mão e a chama não saiu do lugar, flutuando no ar. Não tirou os olhos dela, e sem precisar tocá-la novamente, a manipulou mentalmente para que crescesse. Em poucos segundos, algo como uma grande bola de fogo estava em frente a eles, perigosamente pairando próxima ao teto de madeira.

- Luke, quer botar fogo na casa?! – Nana disse assustada. E com um sorriso convencido, Luke tocou naquele fogo e o absorveu para dentro de si.

- Só queria te mostrar que agora consigo controlar isso sem precisar tocar no fogo.

- Tudo bem, Luke... Nunca mais vou duvidar do seu poder de controlar fogo. – se deu por vencida. – Mas não faça dentro de casa, ok?

*

- Eles voltaraaaaam! – Marie gritou, correndo pela casa.

- Ah, finalmente. – Cain correu atrás de Marie, a pegando no colo. A experiência lhe dizia que era melhor impedir Marie de correr descontroladamente pela casa, pois acidentes sempre aconteciam. E esses acidentes eram o motivo de Louis estar quase sempre com band-aids e manchas roxas pelo corpo, pois era sempre nele que Marie acabava trombando.

- Vou ajudar a levar umas malas pro quarto de hóspedes! – Hell disse, indo até o carro estacionado em frente à casa, e sendo seguida por Luke e Nana.

- Não precisa! – Yuudai tentou gritar para eles, mas foram mais rápidos e já estavam abrindo a mala do carro.

- Agora não é mais quarto de hóspedes! – Spike comentou, entrando em cena com Louis ao lado. – É quarto do Kratos e do Yuudai.

- Vocês brigaram de novo?! – Louis exclamou, parecendo assustado e desapontado.

Só então Cain, Spike, Marie e Merlot (que havia acabado de entrar) prestaram atenção no estado dos dois. Além das roupas estarem amassadas, era possível ver em seus braços e pescoços algumas marcas vermelhas e arroxeadas que indicavam arranhões, cortes e contusões.

- Erm... Não, não brigamos! – Yuudai disse, sorrindo sem graça.

- Mas vocês... – Louis começou a falar, até ser rapidamente interrompido por Spike.

- Se ele não disse que não teve briga, então não teve! – empurrou o ombro de Louis. – Não vamos ser inúteis, vem comigo pegar alguma mala também pra levar pro quarto. – e puxou o loiro pelo braço, saindo dali e indo para onde Hell, Luke e Nana estavam.

- Depois eu digo que a mentalidade do Louis é ainda mais infantil que a da Marie, e vocês dizem que eu exagero. – Merlot disse, revirando os olhos. – AI! – gritou quando Marie, que ainda estava sendo segurada por Cain, deu um chute em sua cabeça.

- Bem, vamos entrar logo... O jantar já está  pronto e podemos ir arrumando a mesa. – Cain disse tranquilamente, sorrindo. Colocando Marie no chão novamente, foi até a cozinha, sendo seguido pelos outros.

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