domingo, 3 de fevereiro de 2013

54. Mudanças e Dúvidas


Os dias passavam, e Spike ia se sentindo cada vez mais confortável com todos. Já nem ficava mais tão envergonhado ao receber algum elogio ou ao ver alguém se preocupando com ele. Descobriu que Louis era uma boa companhia para conversar, além de ser muito divertido (pois não tinha como não rir dos dramas e exageros casuais dele), ele também havia se aproximado bastante de Merlot.
Desde o dia em que ele a viu triste, olhando perdidamente para as copas das árvores que balançavam com o vento, e perguntou o que havia acontecido, ele havia passado a ser seu ouvinte.
Descobriu então que Merlot estava triste com o término do namoro, mas que de algum modo, ele conseguia fazer com que ela se distraísse dos pensamentos desanimados.

“Mas vai ficar tudo bem, não se preocupa... Acho que às vezes é melhor assim, não é?” Spike falou qualquer coisa, sem fazer ideia do que estava dizendo. Ele havia acabado de ouvir a história de Merlot, e não havia entendido muito bem sequer a metade das coisas que ela disse. Até porque a garota falava muito rápido. Mas mesmo assim, se sentia na obrigação de tentar animá-la.

Merlot não o respondeu de imediato, era como se ela tivesse percebido que ele não sabia o que estava falando. Mas ela apenas suspirou, e lhe respondeu com um rápido sorriso. Até que lembrou de uma coisa, e sentiu-se energizada ao ter uma ideia.

“Ah, Spike! Quer sair comigo? Vai ser bom ter uma companhia decente pra ir ao shopping... Alguém menos louco que a Marie! Ela sai correndo do nada, se perde da gente, rouba doces das lojas... Ela é minha melhor amiga, não me entenda mal. Mas é louca, isso é fato.”

Quando Spike concordou em sair com Merlot, ainda não fazia ideia no que estava se metendo. Só foi cair na real de que havia entrado numa situação complicada quando Merlot o arrastou até o quarto deles (pois os quatro “adolescentes” dormiam juntos num quarto com dois beliches), e começou a mostrar várias roupas femininas, dizendo quais combinavam com ele.

“Você prefere vestidos, não é?” ela perguntou, revirando gavetas e colocando roupas sobre as camas de baixo.

“Erm... Eu...” não sabia bem o que responder à Merlot. A verdade era que ele estava gostando de usar as roupas masculinas emprestas de Louis. Mas a garota estava tão animada, que ele não quis interrompê-la. “Eu acho que o Louis não vai conseguir dormir na cama dele hoje, com esse monte de roupas em cima.” Rindo sem graça, ele mudou de assunto.

“Vou te levar nuns lugares... E a gente deve voltar quando ele já estiver dormindo. Vocês podem trocar de camas hoje, não? Quando você chegar, guardamos as roupas e você fica com a de baixo.”

“Mas ele tem medo de altura, por isso pede pra eu dormir na de cima.”

“É um bebezão mesmo...” ela revirou os olhos. Spike pensou em dizer alguma coisa para defender o amigo, mas Merlot estava tão cheia de energia que o deixava zonzo, e ele se sentia impotente diante dela.

“Esse vestido aqui! Experimenta ele, Spike.” indicou um dos vestidos esticados sobre a cama. “Ah, e você é gay, não é?” perguntou de repente.

“O que é gay?” ele perguntou de volta, um pouco confuso.

“Meninos que gostam de meninos!” ela respondeu após ter rido.

“Ah... Mas eu... Gosto de meninos e de meninas...” sentia-se ainda mais confuso.

“Ótimo, temos um hippie aqui.” ela riu mais ainda, e ele cada vez entendia menos. “Olha, gay é quando você se apaixona por pessoas do mesmo sexo, entende? Que nem o Kratos e o Yuudai. Os dois são homens e são namorados.”

“Ah... Sim, entendi...”

“Então, você não precisa ficar sem graça.” ela o interrompeu. “A gente vai se divertir muito juntos! Você vai adorar o lugar onde vou te levar... Deixa só eu ligar pra umas amigas. Enquanto isso você vai se vestindo aí, já volto.” disse enquanto já ia puxando o celular do bolso, e saiu do quarto.

“As coisas progrediram rápido demais... Primeiro a gente só ia ao shopping, depois ela disse que voltaríamos à noite, e agora vamos sair com mais sei lá quantas pessoas!” ele pensava, um pouco assustado com a ideia. “E eu sou gay?” pensou também, sentindo-se mais tonto que antes. Merlot realmente parecia um furacão, quando estava animada desse jeito.



E desde esse dia, Merlot e Spike têm saído juntos constantemente, pelo menos duas vezes em cada semana. Ela sempre escolhe as roupas dele, e ele então sempre sai vestido como uma menina. Ele faz sucesso no grupo de amigos de Merlot, pois as garotas o acham muito fofo e os garotos não parecem ter preconceito algum com pessoas “diferentes”. Para alguém que era tão tímido, Spike está se saindo muito bem, aprendendo a socializar e a ser espontâneo.

Mas ao mesmo tempo, ele vêm sentindo algo o incomodando no peito.

- Eu sinto saudade de escrever... – Spike comentou com Hell, durante um café da manhã onde apenas os dois estavam juntos na cozinha.

- Como assim? – ela esperava as torradas ficarem prontas.

- Lá naquela merda, a única coisa que me deixava um pouco melhorar era escrever de vez em quando num diário. – ele e Hell haviam convencionado chamar o planeta deles de “aquela merda”.

- Ah, o Cain tem um caderno universitário novinho, guardado... Posso te dar ele! – Hell lembrou. – Mas tem alguma coisa te incomodando?

- Obrigado! Mas não é nada demais, só vontade de escrever... – na verdade, ele mesmo não sabia muito o que escrever. Sentia-se um pouco confuso de um modo geral, haviam ainda várias coisas em sua nova vida que ele não entendia muito bem. Pensava que voltar a ter um diário pudesse ajudar.

- Ok, mas você sabe que pode falar comigo, Balthazar. – ela pegou as torradas que haviam acabado de pular, e as levou para mesa a fim de passar manteiga.

- Hell, não me chama de Balthazar... Você sabe que eu não gosto. – pediu.

- E quer que eu te chame de Spike? Spike é ridículo, até agora não sei como você arrumou esse apelido escroto! – bem que Spike estava achando Hell boazinha demais. Ele sabia que não demoraria muito até ela agir novamente  do modo debochado e mal educado que lhe era tão característico.

- Sei lá, fui eu que inventei! Achei que soava bem... – franziu as sobrancelhas, aceitando a torrada que Hell lhe ofereceu.

- Não, cara. Só soa idiota!

- Mas eu gosto!

- Spike é nome de cachorro!

- Mas...

- Olha, é nome de cachorro mesmo! – Luke disse ao entrar na cozinha, jogando-se sobre a mesa e quase a derrubando ao sentar em cima dela. – Tinha um cachorro que se chamava Spike, num desenho que via quando era criança... Qual era mesmo o nome? Eu adorava o desenho...

- Luke, você... – Spike tentou falar alguma coisa, mas Luke mandou que calasse a boca pois estava tentando lembrar o nome do desenho.

- Era Rugrats. – Cain disse, aparecendo na cozinha com uma caneca de café. – E tinha mesmo um cachorro chamado Spike. – ele riu. – Mas olha, eu acho o nome legal.

- ISSO! Rugrats! – Luke gritou, animado. – Eu adorava o Reptar!

- Luke! – Spike precisou levantar a voz também, ou não seria ouvido nunca.

- Porque essa cara, garoto? Não precisa ficar tão triste, Spike é um nome legal mesmo...

- Não é... É que você sentou na minha torrada! – ele reclamou.

- O que?! Ah, merda! – Luke pulou para o chão, e olhou para trás. Realmente, havia agora uma torrada esmagada na mesa.

- HAHAHA! Tá cheio de manteiga na bunda! – Hell ria, apontando para Luke com a faca.

- A Nana vai adorar... – Cain comentou, rindo também.

- Minha calça nova...! – Luke falou meio desesperado, passando guardanapo onde estava sujo.

- Minha torrada! – Spike falou em tom igualmente desesperado, com as mãos na cabeça. Ele estava apenas imitando Luke, o que fez com que todos, até mesmo o ruivo destruidor de torradas, acabassem rindo.

...

É bom voltar a ter onde escrever! Pela primeira vez, primeira mesmo, estou feliz!! Eles todos são demais, é muito divertido ficar aqui, e eu não quero nunca, nunca mais, voltar pra “aquela merda”. Às vezes tenho pesadelos com a vida que eu tinha, mas logo que acordo eu agradeço por não passarem de pesadelos, de coisas que nunca mais vão acontecer de novo comigo. Eles, principalmente a Hell, dizem que me protegeriam de qualquer coisa. E eu acredito!! Não tem como não confiar neles! A gente sente a força deles só de chegar perto! E o Luke, então? É muita energia, chega a assustar! Mas já estou me acostumando. O Kratos é sempre tão misterioso, ele parece saber se controlar muito bem, e diferente do Luke, ele parece ser bem mais “racional”... Aí a gente não sente nele essa energia forte e violenta que vai pra todos os lados sem freio (que é como eu descreveria a do Luke), mas também não tem como duvidar do poder dele. Acho que o Kratos é o mais forte da família.
Ah, e a comida aqui é deliciosa. Já engordei 4kg, e a Nana diz que quando eu engordar mais uns 6kg, vou estar no meu peso ideal. Acho que estou ficando mais bonito. :)

Certo, não tenho mais o que ficar enrolando.
É MUITO CONFUSO.
Tudo sobre a Merlot me deixa meio confuso!
Eu nem sei o que escrever aqui sobre ela.
Ela diz que eu sou gay, e a princípio não liguei pra isso.Porque tanto faz pra mim  talvez eu seja. Mas eu não sei como é isso de “se apaixonar”, que o pessoal fala tanto. A Merlot diz às vezes que eu sou lindo, e isso me deixa feliz demais. Aí eu uso as roupas que ela me empresta, e ela fica falando o quanto eu fico fofo... Não sei se fico feliz. Quer dizer, ser fofo é uma coisa boa, não é? Mas ela não fala desse jeito dos outros garotos... Quando a gente tá conversando e ela fala de algum garoto que ela gosta ou que ela acha bonito, ela nunca diz que eles são fofos. Fala que são “gostosos”. Eu ainda não entendo bem o significado disso, mas pela cara que ela faz, “gostoso” é melhor que “fofo”.
Será que não dá pra ela me achar gostoso também? 

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