“Eu não apenas cheguei no meu peso ideal, como voltei a treinar também!
Só que dessa vez, é DIVERTIDO. E não torturante, como os treinos do submundo.
Claro que Luke e Kratos são muito mais fortes que eu, mas eles tem bom senso
(na verdade, só o Kratos tem) e estão
sabendo me ajudar a ficar mais forte.
Eu e Merlot continuamos a sair com os amigos dela (que hoje em dia não
me sinto mal em falar que são meus amigos também). Mas confesso que estou muito
tenso com alguma coisa... Tenho certeza de que estão armando algo pra mim.
Ultimamente ficam me perguntando se já namorei, se já fiquei com alguém...
Perguntam até qual é o “meu tipo de garoto”.
Mas que merda, eu não estou interessado em nada disso!
Ainda bem que a Merlot não conta nada pra eles (é bom saber que dá pra
confiar nela, essa é uma das coisas que mais gosto na Merlot), aí eu só preciso
desviar das perguntas. Porque não quero que saibam muito sobre mim. Não quero
que fiquem me achando idiota ou ingênuo... Não mais do que já acham.“
Spike se enturmava fácil.
Estava se divertindo muito com os outros garotos da casa, havia aprendido a
jogar videogame e a ser boca suja. Luke tentava fazer com que ele começasse a
ler mangás, mas Spike dizia ficar confuso com o estilo de leitura. Louis também
havia tentado introduzir Spike aos seus livros favoritos, mas o garoto no fundo
achava aqueles contos de fadas muito chatos (mas ele gostou de vários desenhos
da Disney, pelos quais Louis é viciado). Cain obteve mais sucesso ao descobrir
que Spike se interessava por livros e filmes de suspense e de ação.
E quando Merlot via como Spike
ficava a vontade com os outros, um sentimento de possessividade tomava conta
dela, e ela o puxava para mais saídas. E desse modo sentia que Spike pertencia
mais à ela do que a qualquer outra pessoa. Ela adorava o modo como Spike lhe
obedecia, sempre se arrumando com as roupas que ela escolhia.
- A gente tá em cima da hora,
vamos acabar nos atrasando se não corrermos... – agitada como sempre, Merlot
separava algumas roupas para Spike, e outras para ela mesma usar. – O Ed já me
ligou, estão esperando a gente no boliche.
- Mini saia? – ele segurou a saia,
estranhando a escolha das roupas. Havia também uma meia arrastão e uma blusa
bem justa entre as roupas.
- Sim, você hoje vai mostrar
essas coxas. – ela piscou para ele, como se soubesse de alguma coisa.
- Merlot, não gosto muito
desse tipo de roupa. Nem tem a ver comigo, eu... – parou de falar quando Merlot
tirou a blusa na frente dele. – E-eu... – ele gaguejava, sem nem lembrar mais
sobre o que estava falando.
- Vai ficar parado com essa
cara de idiota? Se arruma logo também. – e dizendo isso, vestiu uma blusa, e
saiu do quarto para calçar os sapatos.
O garoto ficou ainda um tempo
parado, como se estivesse em estado de choque. Depois vestiu rapidamente as
roupas que haviam sido escolhidas por Merlot, e foi correndo procurar Louis.
*
- Ei, Spike! Acho que a Merlot
estava te procurando... – Louis começou a falar ao avistar o outro.
- Louis, me ajuda! – sentou na
terra, ao lado dele. Louis e Marie estavam colhendo algumas frutas pelo bosque,
e faziam uma pausa na sombra de uma árvore quando Spike chegou.
- Em que? – ficou preocupado
com o jeito do amigo.
- E-eu... – sentiu o rosto
esquentando. Lançou um olhar meio tenso à Marie, que estava ao lado mas parecia
alheia à conversa.
- Certo, vamos pra lá... –
indicou uma direção qualquer mais à frente. – Marie, já volto.
Foram andando juntos, e quando
Marie estava a uma distância onde não podeira ouví-los (o que significava uma
distância grande, pois ela ouvia bem demais), Spike sentiu-se mais seguro para
falar.
- Eu senti umas coisas
estranhas! Agora há pouco, a Merlot do nada ficou de sutiã na minha frente!
E-eu... Não sei o que aconteceu! – com o rosto vermelho e expressão aflita, ele
parecia realmente estar nervoso.
Louis segurou a vontade de
rir.
- Spike, tá na cara que você
não é gay. Todo mundo aqui em casa já comentou isso. Porque você deixar a
Merlot espalhar por aí que você é? E porque deixa ela te vestir?
- N-não sei... – ele olhava
para os lados, como se procurasse respostas nas plantas. – Ela estava sempre
tão triste, ela desabafava comigo sobre o ex-namorado... Ela só começou a ficar
feliz quando começou a escolher roupas pra mim e a sair comigo. Eu não quero
que ela fique triste de novo! Prefiro manter tudo como está... – embora falasse
com determinação, sentia-se inseguro.
- Você devia aproveitar que a
Merlot está solteira...
- Como assim?! – pergunta de
repente, como se tivesse se assustado. – Louis, vem comigo nessa saída de hoje!
Acho que alguma coisa vai acontecer hoje no boliche...
- Boliche? Aquele boliche? Não
gosto de lá, parece mais uma boate... É escuro e geralmente as pessoas não vão
lá com boas intenções.
- Sim, por isso mesmo eu
queria que você fosse! – estava quase implorando.
- Eu já te disse que não sou
amigo dos amigos da Merlot! Ela fala com algumas pessoas que implicavam muito
comigo... Antes de eu começar a ficar mais popular sendo DJ. – disse irritado.
– Não quero ver eles.
Se dando por vencido, Spike
respirou fundo, se acalmando.
Até que ouviu a voz de Merlot,
e sentiu o coração disparar de novo.
- Você tá de sacanagem, né?!
Eu falando que estamos atrasados, e você some! Vamos, Spike! – ela o puxa pelo
braço. – Até mais, Louis! – acenou para o loiro enquanto andava rapidamente
arrastando o outro.
- Boa sorte. – Louis desejou
para Spike, mesmo que ele não pudesse mais ouví-lo.
*
Já no boliche, Spike sentava
entre duas garotas enquanto esperava por sua vez. Não estava realmente ali,
pois pensava sem parar em varias coisas, distraidamente.
- Ei, sua vez! – sentiu Merlot
chutando perna. Ela estava sentada num sofá em frente ao dele, e um garoto
passava o braço por trás dela. Ela parecia confortável, recostada nele. E a
cena incomodava Spike.
- Sim, já vou... – foi até a
pista, e escolheu uma bola.
- Não se abaixa muito, Spike!
– um dos garotos gritou, rindo. Spike olhou para trás, sem entender.
- Essa saia curtinha aí tá
mostrando demais, hein... – outro falou, e todos riram. Varias conversinhas
cochichadas estavam deixando Spike ainda mais constrangido. Com o rosto
vermelho, ele riu também e disse apenas “ah, calem a boca”.
Jogou a bola, e por causa de
dois pinos não fez um strike.
Voltando aos sofás, Spike
tentou se afastar mais do pessoal, sentando numa ponta mais vazia do comprido
sofá.
- Ei, vamos mais pra lá,
dançar um pouco? – Marina, uma das garotas do grupo, perguntou a Spike. Mais duas meninas estavam
ao lado dela.
- Não estou com vontade. –
dispensou-as na hora. Ele realmente não estava se sentindo confortável.
- Ah, Spike! Vamos lá. –
Merlot disse ao aproximar-se.
- Ok... – ele levantou, não
resistindo ao sorriso de Merlot.
- O Spike gosta mesmo da
Merlot, não é? – uma das meninas comentou enquanto eles iam até um canto mais
escuro da parte do boliche que funcionava como pista de dança.
Ele tentou não demonstrar
nenhuma reação à esse comentario, mas sentiu seu nervosismo aflorando. “É tão fácil
de notar isso?”, pensou.
- Spike, fica aqui um pouco,
tá?
- Depois a gente volta!
Merlot lhe mostrou um sorrisinho
e se afastou dali, junto das outras meninas.
Sentindo-se ainda mais
nervoso, mesmo que não soubesse o motivo, Spike olhava para os lados como se
procurasse por alguma coisa. Talvez estivesse apenas tentando disfarçar o fato
de ter sido abandonado sozinho num canto escuro de uma pista de dança.
- Ei, Spike... – um dos
colegas de Merlot, que costumava sair junto com eles, se aproximou. Spike não o
notou a princípio, por isso se assustou ao vê-lo de repente ali, tão próximo.
- Joe? Oi, eu não tinha te
visto aqui. – sentiu-se um pouco mais tranquilo ao estar conversando com alguém
conhecido.
- É que eu acabei de chegar...
– por algum motivo, o garoto parecia nervoso. Desviava dos olhos de Spike, e coçava
a cabeça em sinal de desconforto. – Spike, eu... É que... A Merlot já falou com
você, né? – ele falava, com um sorriso tímido.
- Falar o que? – “Merda, eu
sabia que a Merlot tinha aprontado alguma pra hoje...”
Joe pareceu surpreso. Não
esperava essa resposta.
- Q-que e-eu... – ele parou de
gaguejar para respirar, reunindo coragem. – Que eu gosto de você. – mesmo
naquele lugar, os escassos raios de luminosidade que vinham das luzes coloridas
no teto e nas paredes foram suficientes para perceber o quanto o rosto do
garoto estava vermelho.
Com os lábios entreabertos por
estar surpreso, Spike não sabia o que falar.
- Eu tinha falado pra ela,
e... Ela me disse que você queria ficar comigo também. – ele falava olhando
para o chão. – Eu falei primeiro com ela porque tava meio com vergonha... E ela
disse que você era BV, então ia ficar com vergonha também se eu falasse direto
contigo.
Seu constrangimento e surpresa
desapareceram.
Spike agora sentia apenas
raiva de Merlot.
“Como ela pôde?! Eu sempre
confiei nela... Ela me prometia que nunca ia contar nada pra ninguém...”, ele
pensava, decepcionado e irritado. “E ela arrumou isso tudo!”
- Você... Não quer? – Joe
perguntou. O silêncio do outro o deixava mais nervoso a cada segundo.
Spike o olhou nos olhos.
Percebeu que seu coração havia começador a bater com força contra o peito.
Tomando uma decisão, segurou a cintura de Joe e o puxou para si.
E assim, deu o seu primeiro
beijo.
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