sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

52. Hell versus Balthazar


Era um dos momentos em que Hell ficava sozinha em casa. Cain estava na faculdade, estudando ou talvez dando umas aulas, Luke estava com Kratos em algum lugar, Nana havia ido resolver coisas na Dimensão das Borboletas, Merlot havia saído com amigas da escola, e Louis e Marie com certeza estavam com Yuudai.
Hell não se importava com isso, gostava do (raro) momento em que a casa era só sua, e aproveitava a tranquilidade absoluta do lugar para fazer uma das coisas que mais gostava: Dormir o quanto quisesse. Certo, às vezes ela precisava usar esses momentos para limpar a casa, se Nana lhe pedisse isso. Mas não era o caso.
No entanto, dessa vez ela não ia dormir. Algo em seus instintos lhe aconselhava ficar acordada.
Por isso, sentou-se numa cadeira de vime que fora colocada em frente a porta principal da casa, e bebia vinho tinto calmamente, saboreando-o.
Estava esperando por alguma coisa, sabia disso. Mas tinha apenas uma vaga ideia do que poderia ser...

Até que a porta a sua frente (que ela havia deixado destrancada) foi aberta de supetão, por um chute vindo do lado de fora. Por ela entrou então um garoto que seria muito facilmente confundido com uma garota: Não apenas por seu rosto delicado, mas porque vestia um belo vestido vinho, no estilo vitoriano. Cheio de lacinhos, rendas e babados.


- EU VIM DO INFERNO, E VOU TE LEVAR DE VOLTA PRA LÁ! – gritou essa frase, posicionando-se de pernas abertas e com um braço esticado em direção a Hell, apontando o indicador. Sorriu vitoriosamente, como se estivesse feliz por ter conseguido realizar uma entrada triunfal.

Infelizmente para o recém-chegado, a postura e expressão de Hell não se alteraram. A não ser por um sorrisinho maldoso que agora o encarava como se ele não passasse de algo inofensivo, mas levemente risível.

- Spike, há quanto tempo. – ela disse tranquilamente, balançando a taça de vinho devagar.

- Não adianta resistir, Helleh! Eu me preparei a vida toda pra isso! Se você não quiser voltar comigo por vontade própria, vai ser a força! – ele parecia de fato muito determinado. Posicionou os punhos fechados na frente do rosto. Seu corpo inteiro estava contraído, aguardava nervosamente a reação de Hell, embora tivesse praticado essa situação inúmeras vezes.

- Lá fora... – ela disse ao se levantar, e passou por ele como uma majestade, ignorando-o. – Não quero que seu sangue suje o chão. – completou a frase já no bosque, e deu um gole no vinho.

Spike respirou fundo.
A presença da vampira era ainda pior do que lembrava. As intenções que eram sentidas nela eram ainda piores do que se fossem assassinas. Eram simplesmente indiferentes. Tudo em Hell fazia parecer que ela pouco se importava se o garoto a sua frente morreria ou viveria, e ela nem parecia sequer considerar a hipótese dele vencer.

- Como quiser. – ele disse seriamente, e foi para o bosque também, ficando de frente para Hell.

“Concentrar energia, concentrar energia...”, Spike pensava enquanto sentia o calor aumentando em suas mãos. Ia começar essa luta já dando quase tudo de si logo no início, queria acabar logo com isso. “Tudo que preciso é deixa-la inconsciente e leva-la de volta...”, isso porque o máximo que conseguiria seria deixa-la inconsciente mesmo. Sabia que a mulher a sua frente era um monstro, que era muito mais forte que ele.

Numa questão de frações de segundos, o garoto lançou das mãos uma esfera energética dourada, em direção à Hell. Ele não a viu sair do lugar, mas de algum modo ela havia se desviado de forma absurdamente rápida.
Tudo o que indicava a rapidez com que provavelmente havia se movido era o vinho em sua taça, que balançava um pouco.

Hell começou a andar até Spike, calmamente.
Ele sentia-se imobilizado. Ela não estava fazendo nada, mas ele não conseguia se mexer porque além do cansaço, sentia-se aterrorizado.
“E-ela... É... Pior que Hades...”

- Balthazar, porque está fazendo isso? Ambos sabemos que você nunca vai conseguir sequer me arranhar. – ela estava em frente a ele, muito próxima. – Sabe por quê? – levantou a taça acima da cabeça dele. – Por que... Você... É apenas... Uma... Cópia fraca... De mim... – disse lentamente enquanto derramava o vinho no garoto. O líquido escorria por entre os fios castanhos, molhava seu rosto já úmido pelas lágrimas, e por fim manchava o vestido.

Ao terminar sua sessão de tortura psicológica, jogou a taça no chão.
Inclinou o corpo, abaixando o rosto de modo a ficar cara a cara com ele, e lhe mostrou o sorriso debochado que já lhe era familiar.

- E-eu... – ele tentava dizer, com a voz baixinha. – N-não me chame de Balthazar!! – surpreendendo Hell (e a si mesmo), acertou um soco fortíssimo no rosto dela, abrindo um corte no lábio da vampira, que sagrava e com certeza ficaria inchado.

Ela arregalou os olhos, incrédula.
Spike também parecia assustado.

Mas ela apenas sorriu novamente, desta vez abrindo o sorriso até que sua risada se tornasse incontrolável. Enquanto ria como se tivesse perdido o fio de sanidade que lhe restava, foi andando de costas até voltar a sua posição anterior.

- PODE VIR, CRIANÇA! – ela lambeu o sangue que escorria, e lhe sorriu abertamente. – A maior diferença entre eu você... É que você é FRACO! Não tem força de vontade! Por isso é o pau mandado que Hades sempre quis!

- CALA A BOCA! Você vai pagar por seus crimes, Hell...! –enquanto corria até ela, lançava mais daquelas esferas luminosas, das quais Helleh se desviava com maestria.

- Crimes?! Essa foi a lavagem cerebral que fizeram em você, é?

A luta continuou, e a desvantagem de Spike apenas tornava-se mais evidente a cada minuto. Hell sequer parecia cansada, apenas desviava.
“É agora! Vou dar tudo de mim... Só mais um pouco!”, Spike estava pronto para dar seu ataque final. Um golpe do qual Hell não poderia fugir. Simplesmente não poderia.

Parou de correr atrás dela.
Abaixou a cabeça, e abriu os braços.
 
Hell olhou curiosa, tentando compreender o que estava acontecendo.
Mas apenas entendeu quando Spike parecia flutuar, devido à quantidade monstruosa de energia acumulada.
- EU... VENCI!! – ele gritou, ao lançar em frente uma enorme bola energética, tão forte e iluminada que parecia um pedaço do sol.

Deixou que seu corpo caísse no chão, cansado.
Levantou um pouco a cabeça, a fim de constatar que o corpo de Hell estava também caído, inconsciente.
Mas não viu nada a sua frente.

- Como... Mas o que...? – confuso e sentindo o corpo todo fraco, não encontrava vestígio nenhum de Hell.

Até que ouviu um pio agudo.
Olhou para cima, e viu um pequeno pássaro no galho de uma árvore à frente. Totalmente vermelho.

- Maldita! Mas você precisaria... Ter continuado a beber sangue desde que saiu da nossa dimensão pela primeira vez... – sentia-se muito confuso e fraco, mas ia usar suas últimas forças para tentar entender como aquilo tinha acontecido.

O pássaro se transformou na vampira, que usava os longos cabelos cor de sangue caídos na frente de seu corpo, para que não fosse vista totalmente nua. Sentada no galho, ela pensava se devia dar satisfações ou não.

- Sim, e eu mantive minha deliciosa dieta... Graças à Cain.

- Cain... – Spike pensou. – O demônio!

- Além de ser o amor da minha vida, ele me fornece um dos tipos de sangue mais poderosos que eu poderia desejar! Maravilhoso, não...?

“Então... Como não pensei nisso? O demônio... O sangue do demônio... É por isso que ela está tão forte.”, não conseguia mais falar, e nem ficar de olhos abertos.


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